28/07/1999 - 10:00
Aos 70 anos, a mais famosa apresentadora do País acredita que vive uma fase revolucionária em sua vida, enriquecida pelo contato direto com o público de seu show Pra você, com as músicas do CD que lançou em novembro passado. "No Metropolitan, no Rio, peitei uma apresentação para dez mil pessoas, em quatro noites. Tive taquicardia, fiquei angustiada, mas estou feliz de me reencontrar com o povo fora do quadradinho da tevê", diz ela. Sua agenda está lotada até o final do ano com apresentações em vários Estados e inclui até uma em Madri. Hebe, no entanto, não reclama. "Se tiver que ir a alguma cidade e voltar no mesmo dia, ela vai rindo e volta cantando", relata Cláudio Pessutti, seu empresário há três anos. A única mulher apontada pelos leitores de ISTOÉ para a lista dos comunicadores do século, ela ainda se surpreende com o sucesso. "Não esperava tudo isso da vida", comemora. Franca, sem meias palavras, Hebe dirige a vida com o mesmo improviso intuitivo que utiliza à frente de seu programa no SBT, às segundas-feiras. "É esta sensação que me faz adorar o palco, a tevê. Às vezes, eles têm que me tirar à força de lá", ela conta. E não está exagerando. Com energia inesgotável, a apresentadora, que começou a trabalhar aos 14 anos no rádio e tem contrato no SBT até 2001, fez um pequeno intervalo em sua programação para assistir a um desfile de alta-costura em Roma. Entre risadas e brincadeiras – Hebe não fica séria um só instante –, ela se esbaldou em jantares e conversas animadas com os mais variados personagens, muitos deles turistas brasileiros, de quem ela não fez a menor questão de fugir. Um dia depois do desfile, após uma verdadeira maratona de compras em lojas das griffes mais consagradas, Hebe recebeu ISTOÉ para esta entrevista:
É muita responsabilidade, eu sinto que ofereço um modelo arrojado. Tento contribuir para que a mulher saia da toca, que não se deixe subjugar pelo homem. Também procuro mostrar às mulheres que elas podem ser livres e ousadas, sem se vulgarizar. As mulheres da minha geração, de 65, 70 anos, muitas vezes vêm falar comigo agradecidas, como se eu as tivesse libertado de suas amarras.
Digamos que seja inevitável. Eu não acho que a pessoa deva se vestir conforme a idade, mas sim conforme o estado de espírito. Hoje as mulheres mais velhas já se permitem usar um decote, mostrar o que têm de bonito no corpo. Porque eu também faço isso: mostro o que está bom e escondo o que não está. Os braços, por exemplo, sempre deixo cobertos.
Completamente. E eu respeito muito meu público, acho que tenho obrigação de ir bem arrumada e bonita. As telespectadoras esperam para ver minha roupa, minhas jóias, meu cabelo. Muitas imitam o penteado. Já encontrei em restaurantes e lojas mulheres com o cabelo igualzinho ao meu. Antes meu cabelo era mais durinho, com laquê, mas agora uso este gênero mais molinho, e quem cuida dele há 20 anos é o Giovanni, do Jacques & Janine.
Eu adoro me vestir bem, uso jóias logo de manhã, para ir ao cabeleireiro ou à padaria. Uso jóia para mim, porque me faz bem, e é assim também com os cristais, as melhores porcelanas, tudo que eu tenho eu uso. As coisas que a vida dá a gente tem que usufruir.
Chanel, Gai Mattiolo, Walter Rodrigues e Henrique Filho.
Sapatos e bolsas. Sou louca por sapatos e bolsas.
Não faço ginástica, me mantenho andando. Ando o dia inteiro, em casa, no SBT, onde estiver. Sou muito elétrica, acho que isso já dá para gastar energia.
Faço sempre, porque adoro comer, principalmente quando estou viajando, exagero nos vinhos e nas massas. Quando volto para São Paulo, entro nos legumes, saladas e carnes grelhadas.
Maquiagem e cabelo não faço sozinha de jeito nenhum. Não sou capaz. Cirurgia plástica eu já fiz, umas quatro. Foi ótimo e, quando, precisar não vou hesitar em fazer de novo.
Eu comecei a trabalhar aos 14 anos, aos 12 já frequentava programas de calouro. Tudo que tenho é fruto de uma vida inteira de trabalho e dedicação. Nunca faltei a um programa, nunca parei de trabalhar um dia sequer, nunca me permiti dizer "hoje estou cansada e não vou trabalhar". Para mim, compromisso é lei. Por isso, não tenho nenhum sentimento de culpa por viver bem ou usar jóias e roupas caras. Tento fazer alguma coisa para melhorar a nossa situação. O desequilíbrio social no Brasil é chocante e uma coisa que me parte o coração é ver as crianças na rua. E todos os políticos, em toda campanha, prometem tirar as crianças da rua. Eles estão usando as crianças descaradamente.
Eu me arrependi, porque realmente ele está fazendo uma péssima administração.
Se precisar, eu critico, como já critiquei. Mas eu sou malufista por uma questão afetiva. Sou amiga da família, gosto muito deles. O Maluf já fez mesmo muitas besteiras, mas quem não fez?
Eu votei nele, mas o problema está ao redor dele. O presidente deveria afastar determinadas figuras que o adulam e que eu prefiro nem citar. O que mais me assusta na política é que os poderosos continuam encerrados nos seus gabinetes, sem conhecer a realidade das pessoas. Acho impossível que um presidente ou qualquer outro dirigente não se sensibilize ao ver a situação do povo nas ruas. Que poder é esse que gela as pessoas e as deixa sentadas e anestesiadas em seus mundinhos?
Eu não esperava, me senti premiada e muito, muito feliz. É uma honra enorme, estou ao lado de figuras como Assis Chateaubriand, Chacrinha e Carlos Lacerda. Eu me surpreendo o tempo todo com tudo. Nunca saio na rua achando que sou famosa, não há nada que eu espere. Por exemplo, assisti a um desfile maravilhoso de alta-costura aqui em Roma e ficava pensando: "Como você, que saiu de Taubaté, veio parar aqui na boca da passarela em Roma?!" Por que aqui ninguém me conhece e, de repente, eu estava na primeira fila.
Eu já sou avó, avó postiça mas sou. Tenho três netos tortos, do Lélio, que são como meus netos legítimos. Adoro aquelas crianças. A maternidade para mim sempre foi muito importante. Tinha esse desejo desde menina e sou muito feliz por ser mãe do Marcelo. Às vezes me dá vontade de colocá-lo no colo. É que ele está meio grandinho, com aquelas pernonas dele…
Indispensável não é, mas é importante para formar uma família. No meu caso, eu já era mãe e o Lélio também já tinha os filhos dele quando nos encontramos. Ele é um grande companheiro, que adora sair, fazer compras e viajar, como eu, e respeita o meu trabalho e a minha individualidade.
Eu não sou cantora, sou intérprete. Fiquei 20 anos sem cantar e agora estou numa fase incrível, aconteceu uma revolução na minha vida. Essa coisa de cantar e fazer show está me fazendo reencontrar o meu público, porque afinal de contas eu era a mulher do quadradinho da tevê. Eu não tinha consciência disso, de que estava num quadradinho e precisava sair dele, me comunicar diretamente com as pessoas. Embora o meu programa seja ao vivo, é diferente quando você faz um show, como aconteceu no Metropolitan, no Rio, há três semanas. Eu peitei quatro noites seguidas em um espetáculo para dez mil pessoas.
Foi uma loucura, tive taquicardia, morri de angústia, achava que não ia ter público suficiente para lotar as quatro noites, pois são 2.500 lugares por noite, e sofri pra caramba. Levei o maior susto na primeira noite quando vi na primeira fila a Fernanda Montenegro, a Glória Pires, não acreditava que elas pudessem estar lá. No fim deu tudo certo, o show foi uma mistura de músicas, piadas e muito improviso, e eu adorei. Já fiz no Recife, em Porto Alegre, e tenho vários outros programados para fazer pelo Brasil.
Não, nessa temporada não tive nenhum convite. O que aconteceu é que no ano passado a Globo me ligou pedindo que eu me desligasse do SBT para depois ser contratada por eles. Achei errado, eles não queriam pagar multa, e prezo muito o meu contrato com o Silvio Santos, que vai até o fim de 2001. Virou uma brincadeira esta disputa das emissoras por celebridades, mas acho que isso não adianta para garantir audiência. O problema é que a qualidade da tevê caiu demais e as emissoras estão se nivelando por baixo.
Há muita coisa ruim: o jornalismo anda péssimo, não há mais respeito pelo telespectador, quando se mostra o sangue e o corpo da vítima estirado na rua. Não há necessidade de mostrar um cadáver para contar uma notícia. Antes o jornalismo cumpria seu papel sem banalizar a morte. Mas é maluco que o público também goste desta violência, parece que vira sádico, pensando: "Pelo menos tem alguém que é mais infeliz, que é mais triste do que eu." Outra coisa horrorosa são as pegadinhas. É um recurso rasteiro e de mau gosto, e o pior é que as pegadinhas são as mesmas em todos os programas.
É difícil apontar. Não está surgindo nenhum grande talento na tevê brasileira, pois as pessoas são criadas para ser artistas de consumo rápido. Tenho pena dos que acreditam que este sucesso é para sempre. E os que não têm estofo e se deslumbram, acabam desmontados quando caem. Eu me admiro de ainda existir na tevê, tantos valores descartáveis.
Ele está banalizado, tanto quanto a violência. São horríveis aqueles programas, como o da Monique Evans, que mostram trechos de filmes pornôs. Eu a adoro, ela é uma gracinha, mas o programa é lamentável, não dá para assistir. Não há uma novela que não tenha cena de sexo, os beijos então são quase um ato sexual.
E como eu me choco. Eu acho que o sexo é para ser vivido e não visto. O sexo não é bonito de se ver, é gostoso de se fazer. Porque se a gente pensar, a visão dele é chocante, são duas pessoas que se digladiam. A criança, o adolescente que não tem formação alguma vê este sexo e não entende, pode perder até a vontade de fazer. É uma geração que está crescendo com o sexo visual e virtual, também por causa da Internet. Para gostar de sexo você não precisa ver, se vê demais pode passar até a não gostar. E o risco das novas gerações é este, ficar sem imaginação e sem tesão: banaliza-se e enfeia-se o que é bonito e único.
Já, e muitas vezes há excessos. Outro dia apresentei uns homens de sungas com a imagem da Nossa Senhora na frente e choveram cartas das senhoras de Santana. Realmente não precisava ter dado, acabou escapando. Mas eu também encaro a religião com naturalidade, para mim a Nossa Senhora é uma figura do meu dia-a- dia. Converso com ela diariamente, trocamos idéias, peço e agradeço. Eu agradeço o tempo todo por tudo, pois acho que às vezes a gente só pede. É preciso agradecer.
Já fiquei tristinha, fico triste com coisas que acontecem com pessoas amigas, mas nunca tive uma depressão. Também nunca fiz terapia, acho engraçado quando alguém fala que faz terapia porque teve uma infância difícil. A minha foi difícil por problemas financeiros, era muito pobre, mas foi feliz. Eu sei tudo de mim, a vida é a minha terapia. Eu adoro poder consolar, ajudar, confortar. Nunca reclamo da vida.