Equilibrado sobre a perna direita, com a esquerda dobrada à frente, o presidente da Volkswagen do Brasil, Herbert Demel, explica a situação da empresa: "Estamos apoiados apenas no instável mercado brasileiro." Para evitar um tombo, a montadora aposta na retomada das exportações. "O México já está se transformando em nosso segundo pé", completa Demel, descansando a perna esquerda no solo firme da recém-inaugurada fábrica de São José dos Pinhais, nos arredores de Curitiba. É de lá que começam a sair os carros que, no futuro, poderão garantir uma maior estabilidade para os negócios da Volks por aqui. O primeiro deles, o Golf nacional, chega às concessionárias no dia 8 de agosto. Algumas semanas depois, será lançado o Audi A3, montado na mesma linha de produção. Dois modelos que recolocam os produtos brasileiros da multinacional na briga pelos mercados globais. "Precisamos de carros para vender em qualquer lugar do mundo", resume o vice-presidente de tecnologia, Karl Hirtreiter.

Até então, o melhor produto de exportação da Volks era a nova versão do Gol, bem aceita no mercado mexicano. No meio de julho, cerca de duas mil unidades do carro foram embarcadas no porto de Santos e vão ajudar a atingir a meta de vendas para o México de cerca de 24 mil veículos neste ano – o mesmo volume do que será comercializado em toda a América do Sul. O Golf deve seguir o mesmo caminho – e, quem sabe, ir mais longe. O sonho dos executivos da Volks é conseguir colocá-lo no mercado americano. "Vamos ver", desconversa Demel, com uma ponta de sorriso. Se for bem-sucedido, ele estará definitivamente reabrindo um canal de negócios interrompido na virada dos anos 90. A montadora, que já exportou, por exemplo, o antigo Passat para o Oriente Médio e o Fox (o Voyage) para os Estados Unidos, deixou de lado o mercado externo durante sua fusão com a Ford na Autolatina.

Embora tenha aumentado sua participação de mercado de 29% para 31,5% no primeiro semestre, a Volks, como as demais fabricantes, viu suas vendas despencarem este ano. Caiu menos que os rivais, mas caiu 15% e fechou junho com 156 mil veículos comercializados. "Este ano é ruim. Se não vendêssemos um único carro, talvez saísse mais barato", garante Demel. Se a desvalorização do real aumentou a competitividade externa dos modelos brasileiros, elevou também os custos das montadoras, encareceu o produto nacional, afugentou o consumidor, inviabilizou a importação e criou um descompasso comercial com a Argentina. Menos mal que a empresa já se preparava para produzir no País alguns de seus produtos, como o próprio Golf. De todo modo, ainda se cogitam aumentos de preços depois do término do acordo emergencial, em setembro, e a revisão das negociações com metalúrgicos, reduzindo mais a jornada de trabalho para evitar demissões. "Estávamos adaptados para um mercado de 1,5 milhão de veículos, mas venderemos pouco mais de 1,2 milhão no Brasil este ano", prevê Demel. "Só nos resta preparar o futuro."


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