A busca por estratégias que derrotem o câncer de mama é incansável. Mas o esforço tem surtido efeitos e não param de surgir técnicas que empurram o tumor contra a parede. Nessa missão, uma nova arma se consolida como boa alternativa na luta contra a doença. Batizado de quadrantectomia com possibilidade de extensão, o método, desenvolvido pela equipe coordenada pelo professor José Aristodemo Pinotti, chefe do grupo de mama do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, tem como objetivo a realização de um diagnóstico mais preciso do tamanho do tumor.

Apesar do nome complicado, a técnica é simples de entender. Ela é aplicada durante a cirurgia para a retirada do tumor mamário. Na operação, que dura de três a cinco horas, o médico extrai um quarto da mama, conforme a regra tradicional, mas com a ajuda de um patologista, que acompanha toda a cirurgia, certifica-se imediatamente se o restante da mama está saudável ou se há algum vestígio de tumor. "Os lados da peça mamária extraída são estudados – antes só se analisava o nódulo – e, se tiver alguma célula tumoral nessas margens, retiramos mais um pouco de mama do lado em que foi encontrada a anormalidade", explica Pinotti.

O cuidado reduz as chances de o tumor voltar a menos de 1% dos casos. Na quadrantectomia tradicional, criada nos anos 80 pelo italiano Umberto Veronesi, as chances de reincidência são de 10%. Esses números são resultado de um estudo comparativo entre 112 mulheres operadas com a nova técnica nos últimos oito anos e 149 mulheres operadas pela técnica tradicional no mesmo período. Recém-divulgadas, essas conclusões serviram para referendar de vez a técnica de Pinotti. Uma das provas disso é que, em metade dos casos estudados, o cirurgião teve que ampliar a cirurgia porque, de fato, havia a presença de células malignas além do local retirado. "Em 4% desses casos tivemos que tirar a mama toda", diz Pinotti. Hoje, o método é usado em São Paulo no Hospital das Clínicas e no Centro de Referência da Saúde da Mulher (antigo Hospital Pérola Byington).

Entre as beneficiadas com a nova fórmula está a dona de casa Maria Aparecida Campalevi, 57 anos. Ao retirar um tumor da mama esquerda de Maria, Pinotti constatou que havia células suspeitas nas bordas do tecido e removeu mais um centímetro de mama. A operação foi feita há três meses, e Maria garante que se sente cada vez melhor. "Sabia que a equipe médica faria o que fosse necessário. Além disso, não fiquei mutilada. Eles reduziram a mama direita também para que não ficasse diferente da esquerda", conta Maria, satisfeita com os resultados.