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Depois do nascimento do bebê, os médicos e a equipe de saúde costumam ficar atentos para observar se a mulher apresenta sinais de depressão. No entanto, um estudo recente feito pelo pediatra Ian Paul, professor de pediatria e saúde pública da Faculdade de Medicina da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, mostra que é urgente monitorar também as variações de humor relacionadas à ansiedade. “Descobrimos que 17% das 1.100 parturientes que acompanhamos por seis meses, desde a internação até o parto, tinham sinais de ansiedade em graus variados”, disse Paul à ISTOÉ. A descoberta surpreendeu porque equivale a dizer que cerca de uma em seis mulheres pode se ver enredada pela ansiedade nessa fase. “Constatamos que sintomas desse distúrbio são mais comuns que os de depressão, encontrados em 6% das mulheres dessa pesquisa”, analisa Paul. O estudo foi publicado pela “Pediatrics”, da Academia Americana de Pediatria.  

O trabalho de Paul mostrou ainda que o desconforto emocional causado pela ansiedade pode interferir na liberação de ocitocina, um hormônio que age na contração dos ductos mamários e permite que o leite seja expulso do peito. “Uma das consequências dessa mudança pode ser o aumento da dificuldade de liberar leite, obrigando o bebê a sugar com mais força”, exemplifica a enfermeira obstétrica Isília Silva, da Faculdade de Enfermagem da Universidade de São Paulo (Usp). Ela orientou uma tese de mestrado sobre o impacto da ansiedade na amamentação. Se a mulher ficar ainda mais ansiosa ao perceber que o bebê precisa se esforçar muito para mamar, cria-se um ciclo que pode desencadear outras respostas do organismo. “Há chance de a contenção de leite no peito levar o corpo a entender que deve reduzir a produção”, diz a enfermeira Isília.

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ATENÇÃO
Bernik, da USP, diz que a ansiedade da
gestante deve ser avaliada desde o início
 

A professora de ginecologia e obstetrícia Dana Gossett, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, decidiu medir o grau de angústia de 461 mulheres no pós-parto. “Onze por cento delas tinham ansiedade muito elevada e algumas manifestavam comportamentos obsessivos-compulsivos”, diz a especialista. Um dos sinais encontrados com maior frequência por Dana no grupo estudado era a preocupação em checar repetidas vezes se a criança não tinha parado de respirar ou se caíra do berço. Novas entrevistas feitas seis meses depois mostraram sintomas mais amenos em metade do grupo. As outras, porém, continuavam lidando com o sentimento nos seus mais diversos matizes. A pesquisa, publicada pelo “Journal of Reproductive Medicine”, foi motivada pela experiência da própria médica, que sofreu com pensamentos indesejáveis e repetitivos após o parto do primeiro filho. “Eu queria verificar se o mesmo ocorria a outras mulheres”, disse Dana.

O psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Usp, afirma que é essencial monitorar a evolução da ansiedade das jovens mães. “O pós-parto é um momento em que pode haver recaídas de comportamentos ansiosos que podem estar presentes há mais tempo”, comenta o especialista.

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Também existe a possibilidade de as aflições e angústias fora do normal sentidas pela primeira vez após a chegada do bebê não desaparecerem por si só, sem tratamento. “Por isso, os profissionais da saúde devem aprender a diferenciar a ansiedade normal daquela patológica, que leva a prejuízos funcionais ou a sofrimento excessivo”, orienta o psiquiatra da USP. As formas mais comuns da ansiedade que escapa ao controle são os chamados transtornos do pânico, de ansiedade generalizada ou o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Antes de quatro semanas, afirma Bernik, a ansiedade pode ser considerada uma manifestação normal em um período de grandes ajustes. “Nessa fase, há chance de ser aliviada com orientação e psicoterapia de apoio. O suporte de uma enfermeira ou de uma mãe mais experiente também auxilia”, diz ele. O pediatra americano Paul acha que os médicos precisam ajudar. “Gastar um pouco mais de tempo com as mães pode reduzir sua ansiedade”, aconselha.

Na Faculdade de Enfermagem da USP, são atendidas mulheres cuja ansiedade atrapalha a amamentação. “Às vezes, uma boa conversa com uma assistente social ou enfermeira treinada é suficiente para a mulher se tranquilizar e retomar a amamentação”, diz Isília. Se os sintomas persistem por mais de quatro a seis semanas, a conduta recomendada é buscar um psicólogo ou psiquiatra para fazer o diagnóstico e avaliar as opções de tratamento.
 


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