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CARGO É PODER
A presidenta Dilma Rousseff se valeu da natureza
fisiológica dos partidos para mantê-los em sua base de apoio  

Sob ameaça de perder aliados necessários para formar palanques robustos em 2014, o Planalto deu início, na semana passada, ao contra-ataque para defender a reeleição de Dilma Rousseff. Em uma reunião no Palácio, o governo decidiu montar uma força-tarefa política formada pelos ministros Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Com a popularidade de Dilma em alta – o mais poderoso argumento para conquistar alianças em véspera de campanha eleitoral –, além de promessas de cargos e apoio financeiro, eles saíram em campo na busca de legendas e parlamentares desgarrados. Ao que tudo indica, a operação deu certo. Em meio ao troca-troca partidário promovido nos últimos dias, às vésperas do fim do prazo para mudança de legenda e criação de novas siglas com vistas às eleições de 2014, o governo conseguiu trazer para suas fileiras – contrariando os prognósticos – a maioria dos quadros do Solidariedade, de Paulinho da Força, até aqui um de seus inimigos mais estridentes. Numa outra frente estratégica, ainda quebrou a espinha dorsal do PSB no Nordeste, numa tentativa de isolar o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, possível candidato ao Planalto numa trincheira oposta à de Dilma.

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GOVERNISTA DE CARTEIRINHA
Para fragilizar Eduardo Campos, o governador do Ceará, Cid Gomes, deixou o PSB
e manteve a fidelidade de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos prefeitos do Ceará

A operação destinada a fragilizar Campos começou na quarta-feira 2, quando os irmãos Cid e Ciro Gomes deixaram o PSB e anunciaram a filiação ao PROS. O anúncio foi feito depois que Dilma confirmou a indicação de Francisco Teixeira ao comando do Ministério da Integração, em substituição a Fernando Bezerra, ligado a Eduardo Campos. Até então secretário de Infraestrutura Hídrica, Teixeira é ligado aos irmãos Gomes e, agora, terá nas mãos as principais obras do PAC 2. Somada a um precioso ministério de primeira linha, a perspectiva de manter-se no poder após 2014 garantiu a fidelidade dos Gomes e de um contingente de cinco deputados federais, 11 estaduais e metade dos 184 prefeitos de todo o Ceará. No PSB, a saída da dupla e de seus aliados era esperada. “Não perdemos o que nunca tivemos”, afirma o líder socialista na Câmara, Beto Albuquerque (RS).

O problema é que as perdas não se restringem à terra dos Gomes. O grupo de Eduardo Campos também foi emparedado na Bahia, em Sergipe, Alagoas e no Piauí. “A presidenta Dilma ganhou o Nordeste”, comemorou o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE). A senadora Lídice da Mata (PSB/BA), por exemplo, desistiu de enfrentar o governador baiano, Jaques Wagner, do PT. Lídice não está sozinha. Embora Eduardo Campos tenha anunciado que seu partido saiu do governo, seus senadores preferem dizer que ainda fazem parte da base de apoio do governo Dilma. “Somos quatro senadores aqui e todos continuarão no bloco de apoio”, afirma o senador sergipano Antonio Carlos Valladares.

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Já o fisiológico por natureza Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, mudou de postura. Quando foi oficializada há apenas duas semanas, a legenda contou com o apoio explícito do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB. Paulinho e Aécio posaram juntos para fotos, fizeram críticas a Dilma e prometeram apoio mútuo em 2014. Mas a lua-de-mel acabou na terça-feira 1º, após encontro de Paulinho com Ideli no Palácio do Planalto. “Houve a criação de um partido que não nasceu na órbita do governo, mas já está sendo cooptado em parte pelo governo”, lamentou Aécio Neves, presidenciável do PSDB. “Isso depõe contra a democracia, não ajuda que as pessoas se identifiquem nem se aproximem da política.” Em troca do alinhamento do Solidariedade, Paulinho poderá manter os cargos no governo, especialmente no Ministério do Trabalho, e até ganhar mais espaço – inclusive em governos e prefeituras controladas pelo PT. Ele liberou a legenda para as alianças regionais e analisará o plano nacional em 2014 antes de decidir de que lado ficar. Se Dilma continuar crescendo nas pesquisas, parece óbvio o desfecho dessa novela.   

fotos: Adriano Machado; Jarbas Oliveira/Valor/Folhapress