Os grandes nomes do mundo digital agora não falam só inglês ou espanhol. Apresentam portais de entrada à Internet em português, oferecem correio eletrônico gratuito, acesso sem limite de tempo e iniciam uma guerra de preços para conquistar o brasileiro. Quantos internautas há por aqui? Ninguém sabe ao certo. Mas todos garantem: já são muitos e serão muito mais. Para a consultoria Yankee Group, existe 1,6 milhão de assinantes de provedores no País, mas cada conta é utilizada por, pelo menos, cinco pessoas. Logo, os que mergulham na rede em casa ou no trabalho podem somar oito milhões. Um fenômeno recente reforça este indicador: seis milhões de contribuintes (64% do total) enviaram suas declarações de renda à Receita Federal via web. A nova febre entre os lojistas é tentar entender como o comércio eletrônico pode ajudar seus negócios. Lojas e shoppings virtuais começam a vender de tudo, de uma prosaica cueca Hering a vestidos de noite, passando pelos itens mais aceitos: livros, CDs, softwares. Na próxima segunda-feira 19, começa em São Paulo a Fenasoft, que deve receber um milhão de visitas – e a Internet já responde por 25% dos negócios da principal feira de informática do País. "O Brasil tem sede de informação, 60% da população tem menos de 30 anos, suas empresas também são jovens e a rede é a grande ferramenta deste final de século", avalia Maximiniano Gonçalves Filho, presidente da Fenasoft (www.fenasoft.com.br).

O brasileiro também está mostrando a sua cara para o mundo. Macururé existe! brada o baiano José Acúrsio, 46 anos, que decidiu homenagear sua cidade natal no alto sertão de Canudos, colocando-a no universo digital. O site que está no democrático Geocities do Yahoo! (www.geocities.com/thetropics/shores/7098) já despertou a atenção de brasileiros que vivem no Exterior. "Assim, Macururé passou a ficar conhecida", festeja Acúrsio. Mais prático, o carioca Marcelo Ramos decidiu levar adiante em 1998 uma idéia que só agora começa a ganhar corpo nos Estados Unidos. Ele é um intermediário digital – ou um infomediário. Seu site Aiquefome! (www.aiquefome.com.br) reúne 70 restaurantes do Rio de Janeiro e outros 150 em São Paulo e promete entregar o pedido de uma refeição tão rápido quanto o serviço tradicional por telefone. "Crescemos cerca de 20% ao mês e vamos inaugurar o serviço em agosto em Curitiba", conta Ramos. "Nosso maior problema é a carência de bons serviços de distribuição." Rapidamente, este empreendedor descobriu um dos gargalos que limitam o crescimento ainda mais rápido do comércio eletrônico no País. "Ainda estamos engatinhando porque faltam tecnologia barata, logística de distribuição, melhores sistemas de comunicação", constata Dário Dal Piaz, gerente-geral do Yankee Group no Brasil. "A grande energia deste mercado ainda é potencial." Por estas e por outras, quem cuida das estratégias das empresas de varejo na Internet tem a mesma recomendação: é preciso entrar na rede, mas sem exageros. "O volume de dinheiro ainda não justifica investimentos enormes", alerta Fernando Tassinari, diretor da empresa americana Modem Midia Poppe Tyson.

Por enquanto, é preciso fincar bandeira – e conhecer o mercado. Foi assim que a Intel (www.intel.com.br), através de um sorteio de computadores, conseguiu em 20 dias um banco de dados com os hábitos de compra de 140 mil internautas. Ter um cadastro gigante também foi a arma do Zipmail para ganhar espaço no mercado. O chamariz foi o serviço de correio eletrônico gratuito. Com ele, reuniu 1,5 milhão de usuários, comunidade que cresce hoje a uma média de sete mil novos inscritos por dia. Esta multidão agora é atraída para o portal Zip.net (www.zip.net), lançado há menos de dois meses, onde vai render muita publicidade. "Para o anunciante é um meio altamente eficiente porque sabe exatamente o perfil do público", afirma Marcos de Moraes, dono da Itatel, empresa controladora desses serviços. E o público, é jovem? "Não, contemporâneo. Que quer estar atualizado, independente da idade", responde. Filho do rei da soja Olacyr de Moraes e com formação no mercado financeiro, Marcos optou por dar um salto para o cyberespaço. "Estou no lugar certo, na hora certa", garante.

Pesquisa recente da agência F/Nazca com 7.574 integrantes do Zipmail revelou que o brasileiro já é fiel à Internet. "Me espanta saber que 49% dos usuários acessam a rede todos os dias", destaca Fernand Alphen, responsável pela pesquisa interativa. "No momento em que ela entra na vida das pessoas, se torna como escovar os dentes." As agências de publicidade, que há três anos não sabiam nem bem como lidar com a Internet, hoje já possuem departamentos especializados. Cada proprietário de uma página virtual cobra em média R$ 25 por mil exposições de um banner, as tais propagandas virtuais, segundo Paulo Jorge Pereira, gerente de mídia interativa da DM9DDB.

O País virou palco da guerra dos portais. O gigante Yahoo! desembarcou no Brasil (www.yahoo.com.br) com grandes ambições. "A gente quer ser o único lugar onde o usuário precisa ir para se comunicar e, no futuro, comprar coisas", define seu diretor Bruno Fiorentino. Largou com 12 mil sites catalogados e quer chegar rapidamente a 50 mil. "O portal é a primeira forma de relacionamento do usuário com a Internet, depende cada vez mais de serviços, como bate-papo, serviço de busca, para que o internauta volte nele todos os dias", explica Osvaldo Oliveira, da Microsoft (www.msn.com.br). "A tendência é os portais globais serem mais bem-sucedidos." A America Online (www.br.aol.com) aposta nisso. O maior provedor do mundo, com 18 milhões de usuários em 100 países, está investindo US$ 200 milhões para inaugurar seus serviços na América Latina. "Escolhemos o Brasil para iniciarmos nossos trabalhos porque o País é o mais avançado em tecnologia da região e aqui as novidades são facilmente absorvidas", explica Charles Herington, diretor da AOL.

As lojas virtuais também vão funcionar como âncoras destas portas de entrada para a rede. Hoje, algumas já funcionam assim. É o caso do serviço de delivery do supermercado Pão de Açúcar (www.uol.com.br/pda), que está hospedado no Universo Online, o maior provedor nacional. O que começou apenas como um lance de marketing para gerar a imagem de modernidade virou um bom negócio. O serviço está disponível em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, cresce 60% ao ano e fatura como um grupo de lojas. Para ajudar aqueles que têm dificuldade em acessar a rede, foi criado em março o SOS Delivery, uma minioficina de informática que vai à casa do cliente. "Nunca tinha usado a Internet, aprendi com o pessoal do Pão de Açúcar e agora ganho um tempo enorme", confirma Martha Abdala. "Na Internet não existe tamanho, existe serviço", ensina a gerente de comércio eletrônico Juliana Kfouri Behring.

É com este pensamento que o programador Paulo Chacur está se tornando um shopping virtual. Ele criou a Victorinoxnet (www.victorinoxnet.com.br), distribuidora oficial na rede da marca suíça de canivetes, e teve tanto êxito que agora vai lançar a loja das miniaturas de carros da Burago e promete para breve as vitrines da Technos, Parker, Olivetti e Gulliver. Chacur garante que o segredo para o sucesso é o atendimento ao cliente. "Apesar de ser via computador, ele não pode ser impessoal. Na Internet você primeiro dá para depois receber." Todas vão estar na área de comércio eletrônico do Bradesco, que soma hoje 82 lojas conveniadas, tem outras 70 preparando seus sites e 640 na fila. O grande receio do usuário, a segurança das transações pela rede, parece ser um problema a caminho de ser superado. Bradesco, Visa e Credicard garantem que estão encontrando soluções eficientes para a proteção das compras. "A transmissão dos dados não é problema, mas sim quem os manuseia do outro lado. É bom só trabalhar com instituições conhecidas", explica Wilson Cruz, da IBM. "É mais perigoso dar o cartão de crédito para o garçom no restaurante."

As possibilidades de serviços são as mais variadas. Um filão que cresceu muito nos Estados Unidos, mas ainda dá os primeiros passos no Brasil, é a venda de automóveis. A home page da Ford (www.ford.com.br) permite que o cliente ache a concessionária que tem o modelo com a cor e os opcionais que procura. Cerca de 100 das 300 revendedoras da marca estão catalogadas no sistema. Além de localizar os carros novos, a Ford criou ainda um serviço gratuito de classificados de usados. O vendedor do carro não paga nada para inscrever veículos de qualquer marca durante 15 dias. Uma aplicação mais revolucionária é a que está em curso no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo. Graças a uma rede de alta velocidade, conhecida como Internet 2, financiada pelo CNPq, é possível que todo o banco de dados de exames cardíacos do hospital seja acessado de qualquer computador do prédio. "Esta agilidade é vital quando se fala de coração", constata o médico Antônio Mansur. "O melhor é que este projeto pode no futuro interligar outros hospitais e permitir a comparação de diagnósticos", completa Marco Antonio Gutierrez, da divisão de informática do Incor. Como se vê, a Internet já pode até salvar vidas no Brasil.