A revelação do esquema montado pelos banqueiros do jogo do bicho para oficializar a contravenção em Goiás abriu uma temporada de caça no Estado. Até então indiferente às denúncias sobre o contrato entre a Loteria do Estado de Goiás (LEG) e a Gerplan, uma empresa de fachada montada pelos bicheiros, o governador Marconi Perillo (PSDB) foi forçado a agir depois da reportagem publicada por ISTOÉ na edição 1554. Além de demitir o presidente da LEG, Alcides Ribeiro Filho, e substituí-lo pelo delegado aposentado Miguel Batista de Siqueira, Perillo determinou ao secretário de Segurança Pública, Demóstenes Torres, a apreensão das 203 máquinas da Gerplan utilizadas para fazer as apostas na "Palpiteca", o jogo do bicho camuflado feito sob o guarda-chuva da LEG. "A ordem do governador é eliminar a contravenção", anunciou Torres, na segunda-feira 12. A Procuradoria-Geral do Estado também entrou com uma ação na Justiça para rescindir o contrato que dá à Gerplan direitos de exploração dos jogos em nome da LEG. Na ação, o procurador Diógenes Mortoza alega que a prorrogação do contrato até 2010, acertada no final do ano passado, foi irregular porque infringiu a lei de licitações públicas. Através de inquérito aberto em junho, o Ministério Público tenta ainda rastrear o dinheiro obtido pela contravenção.

Em meio a esse tiroteio, o senador Maguito Vilela (PMDB) tratou de tentar sair da alça de mira. Responsável por um decreto que oficializou em janeiro de 1996 o jogo do bicho, o ex-governador alegou que agiu inocentemente. Afirmou que fez a terceirização da loteria estadual apenas com o objetivo de tirar a LEG do vermelho e obter receitas para aplicação em programas sociais. "Quero distância desse setor", afirmou Maguito.

 

Jogo paulista O mesmo esquema para oficializar o jogo do bicho foi repetido em duas grandes cidades paulistas, Araçatuba e Birigui, através da criação de uma loteria municipal. Essas duas loterias são exploradas por Messias Ribeiro, um dos empresários que controlam o jogo do bicho e a loteria estadual em Goiás. As apostas são idênticas às do jogo do bicho e o nome, "Palpiteca", o mesmo de Goiás. Araçatuba criou sua loteria, por lei, em 1995, e Birigui em março. A Procuradoria da República está questionando a legalidade do jogo e também investigando o destino desse dinheiro. Segundo denúncias, num período de três anos, a Prefeitura de Araçatuba recebeu apenas R$ 34 mil de um total de R$ 1,7 milhão arrecadado pela "Palpiteca".

 

Santos destrói máquinas

A Alfândega do porto de Santos começou a destruir, na terça-feira 13, 1.420 máquinas de apostas de videopôquer, hipódromo eletrônico e caça-níqueis que seriam distribuídas entre cassinos clandestinos do Estado de São Paulo. As máquinas foram apreendidas no ano passado, mas a destruição – com o uso de tratores – só pôde ser feita agora, por causa de pendências judiciais. Os equipamentos vieram do Japão, de Taiwan e da Espanha em 19 contêineres.

Outras 200 máquinas de apostas que chegaram a Santos no mês passado permanecem no porto, mas devem ter o mesmo destino. Mais de mil delas foram destruídas nos últimos dois anos somente em Santos. Como o jogo é proibido no Brasil, a Alfândega não pode vender ou doar os equipamentos. Os importadores – cujos nomes não foram divulgados – tentaram burlar a fiscalização informando que a carga seria de "máquinas de diversão", que são encontradas em casas de jogos eletrônicos e permitidas por lei. A Alfandêga não confirmou se, no lote de equipamentos, havia máquinas de caça-níqueis programadas, semelhantes às que se espalham hoje em bares, padarias e lanchonetes.

Gilberto Nascimento