Acabou o mistério. Aécio Neves desistiu, José Serra será o candidato do PSDB à Presidência e o Palácio do Planalto cairá no seu colo por gravidade. Especialmente porque Lula e o PT escolheram como sua rival a ministra Dilma Rousseff, uma candidata desenhada sob medida para perder. Há quem diga que ela só não decolou nas pesquisas porque ainda não é tão conhecida. Mas o fato é que, quanto mais aparece, mais ela se complica. Sua passagem pela Conferência do Clima, em Copenhague, foi um desastre. Dilma se esforçou tanto para se apropriar de uma agenda que não é sua que acabou cometendo uma gafe. Numa fala decorada, esqueceu-se de um detalhe
crucial – a palavra não – e disse que “o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”. No fundo, seu subconsciente falou mais alto. E Serra, que também esteve na Dinamarca, marcou uma boa posição em defesa do etanol. Há algum tempo, já se especulava em Brasília que o candidato do coração do presidente Lula sempre foi José Serra. Os dois são amigos, pensam de forma parecida no que diz respeito à economia e têm uma ponte: o ex-ministro Antônio Palocci, que é tido por ambos como um interlocutor confiável. Nesse jogo, é possível até que exista um acordo entre PT e PSDB para que cada partido entregue uma cidadela. Funcionaria assim: os petistas cederiam Brasília e os tucanos dariam São Paulo em troca. Hoje, na sucessão paulista, quem lidera com folga todas as pesquisas é Geraldo Alckmin. Mas é possível que Serra, assim como Lula, também escolha um candidato talhado para perder. Neste  caso, seria o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, que seria derrotado por qualquer nome do PT, encerrando uma hegemonia política de quase 20 anos dos tucanos no Estado mais rico do País. Se fosse um jogo de xadrez, quem estivesse com as pedrinhas pretas passaria a brincar com as brancas. E, no fundo, os dois jogadores continuariam dividindo as principais riquezas do País – afinal, o Brasil é grande e generoso. Os mais apressados poderiam dizer que, neste caso, os petistas sairiam perdendo. Entregariam mais e receberiam menos. Mas os interesses do PT nem sempre são iguais aos do presidente. Além disso, pode ser que o acordo vá além da simples troca de palácios. O desenho mais interessante no pós-Lula é o de um novo consenso político, em que petistas e tucanos, em vez de se engalfinharem, poderiam governar juntos, abrindo mão, parcialmente, do apoio dos partidos mais fisiológicos. Teríamos menos escândalos, menos mensalões e a consolidação democrática. E sairia bem mais barato para o País.