Por 36 anos, a secretária Samantha Geimer foi sempre lembrada como “the girl”. Apesar de ter sido alvo de um dos maiores escândalos de Hollywood, seu nome não importava: para a imprensa, a Justiça e as pessoas em geral, ela era sempre referida como “a menina” que o cineasta Roman Polanski violentou aos 13 anos de idade. Hoje casada e mãe de três filhos, Samantha esperou três décadas e meia para recuperar o que chama de “direito à identidade” e, assim, poder contar a sua própria história. É como uma mulher madura e sensível à complexidade da vida que acaba de lançar nos EUA o livro “The Girl – A Life in The Shadow of Roman Polanski” (A menina – uma vida à sombra de Roman Polanski). Escrito com o auxilio do seu advogado, Lawrence Silver, e da jornalista Judith Newman, o livro surpreende pelo fato de a autora, hoje com 50 anos, não posar como vítima, como era de esperar: ela admite ter ficado definitivamente marcada pelo episódio do estupro, mas que o seu violador não é o monstro como costuma ser pintado, tendo todo o direito de seguir sua vida.

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CORAGEM
Samantha Geimer, hoje casada e mãe de três filhos:
ela e Polanski agora trocam e-mails

Numa passagem polêmica, Samantha escreve: “Se tivesse de escolher entre passar outra vez pelo estupro ou pelo processo judicial, escolheria o estupro.” Na sua avaliação de adulta, a exposição pública nos julgamentos – quando foi obrigada a reconstituir inúmeras vezes os acontecimentos – e a perseguição da mídia nos anos seguintes foram-lhe mais perniciosas que a agressão sexual. Talvez por isso não se alongue nos detalhes do ato sórdido. Lembra que Polanski usava botas e um perfume forte e que, a todo momento, se preocupava em saber se ela estava bem. “Não julguei aquilo uma violação porque não houve violência”, escreveu.

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Samantha conheceu Polanski por intermédio de sua mãe, que era atriz. Ele buscava adolescentes para fazer um ensaio fotográfico para a revista “Vogue” francesa e foi na sessão de fotos, na casa do ator Jack Nicholson, em Hollywood Hills, que o episódio sexual se consumou após a garota ser obrigada a beber champanhe misturado a sedativos. No tribunal, antes de fugir para a Europa, o condenado Polanski alegou que tudo fora consentido. “Não foi”, escreve Samantha. Dizendo-se ótima e admitindo que troca e-mails com seu algoz (ele se desculpou em 2009 por “tê-la prejudicado tanto”), Samantha revive o episódio segundo os valores da época e diz que a vontade de ficar famosa tem a sua parcela de culpa no episódio. “Pense nos meninos que dormiam com Michael Jackson. Pense nos seus pais. Eram maus, estúpidos? Nada disso. Eles achavam que ficar famoso era bom.”

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"Nem todo mundo vai entender isso, mas eu nunca
achei que Roman Polanski quisesse me magoar"

Samantha Geimer, no livro "The Girl"

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