Para alguns profissionais de engenharia e arquitetura, ser sustentável não é mais suficiente. Além de utilizar materiais certificados, evitar desperdícios e emitir zero de carbono, eles estão empenhados em erguer obras que ajudem a limpar o ar nas cidades. Pouco importa se elas são verdes como as metrópoles holandesas ou poluídas como os aglomerados urbanos da China.

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URGÊNCIA
Asfalto criado por holandeses pode melhorar o ambiente na China,
onde a população respira um ar 40 vezes mais poluído que o recomendável

Vem da Holanda o exemplo mais recente desse tipo de abordagem construtiva. Pesquisadores da Universidade de Tecnologia Eindhoven cobriram 150 metros de uma rua com um pavimento purificador do ar. Para isso, misturaram ao concreto um composto chamado dióxido de titânio. Por meio de uma reação química, em contato com raios UV o material absorve poluentes. A experiência diminuiu a concentração de dióxido de nitrogênio e de óxido nítrico em até 45%.

A substância ocupa o interior das casas há décadas, pois é usada em produtos de higiene, cosméticos e corantes de alimentos. Em 2011, no Brasil, um projeto de lei foi proposto na Câmara para proibir seu uso nesses produtos. A alegação era a de que o material causa danos à saúde e ao meio ambiente. Como nada foi cientificamente comprovado, em maio deste ano o projeto de lei foi rejeitado. A química mostra que o dióxido de titânio pode ser um ótimo aliado do meio ambiente. É um produto naturalmente autolimpante, o que faz dele um “filtro” natural.

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NO ALTO E NO CHÃO
Tanto o edifício chinês Indigo Tower (acima) quanto o asfalto desenvolvido
pelos holandeses devem seu poder limpante ao dióxido de titânio

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Sua utilização em obras não é exclusividade dos holandeses. Construções em vários lugares do mundo já experimentam o poder do dióxido de titânio, inclusive no Brasil. O novo Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha terá a cobertura revestida com uma membrana do produto. Do outro lado do globo, a cidade chinesa de Qingdao deve ganhar uma das maiores obras autolimpantes do mundo. O edifício Indigo Tower será todo revestido de dióxido de titânio e promete converter gases tóxicos em oxigênio e água. Uma necessidade num país em que a população respira um ar 40 vezes mais poluído que o limite estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Não é só concreto que pode receber o material. Em Roma, a Igreja dos 2.000, construída em comemoração aos dois milênios do cristianismo, recebeu uma camada da tinta abençoada com dióxido de titânio. Um painel de cerâmica de 2.500 m² na fachada do Hospital Manuel Gea Gonzales, na Cidade do México, carrega a missão de garantir a saúde da população também do lado de fora do prédio. O produto consegue neutralizar a poluição produzida por 900 carros. Assim como os chineses, os mexicanos também enfrentam problemas sérios de poluição. A OMS registra que 15 mil pessoas morrem anualmente no país vítimas de doenças causadas pelo ar sujo.

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Até instalações de arte estão entrando na onda despoluidora. Em 2012, uma escultura na frente do Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York tirou da atmosfera a poluição gerada por 260 carros. Para tanto, havia recebido jatos de um spray com nanopartículas da substância. Hoje não dá para saber qual será o “pulmão do mundo” nos séculos que virão. O certo é que esse pulmão será revestido com dióxido de titânio.

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