De um ano para cá, nenhum bicho foi tão mal falado quanto esse tal de “aquecimento global”. Dia sim, dia não, aparece alguém dizendo que ele irá nos devorar. Pode até ser. Mas às vezes também é preciso ter coragem para dizer algumas verdades inconvenientes – Al Gore que nos perdoe. Uma delas é que nunca houve um verão como o de 2007, com praias tão lotadas e cervejas tão geladas. Este entrará para a história. Foi aquele que não se contentou com os estreitos limites temporais e desafiou os deuses. Invadiu o outono e já há quem diga que ele estaria fazendo planos para também mostrar as caras durante o inverno. Afinal, por que só três meses? É um quadro bem diferente do que se via em São Paulo até alguns anos atrás. Na maior cidade do País, havia anos em que o verão não dava sinal de vida. Batia o ponto num dia ou noutro, até a frente fria do fim de semana.

Há quem diga que o aumento das temperaturas irá derreter as calotas polares, elevando o nível dos oceanos e inundando cidades como Fortaleza e Rio de Janeiro. Ninguém sabe ao certo, mesmo porque, em fenômenos naturais, o conhecimento humano engatinha. Mas o fato é que, até agora, a paranóia em relação ao aquecimento global só fez bem ao Brasil. Colocou o etanol no centro da discussão energética mundial e pode criar as condições políticas para que os países ricos paguem pela preservação da Amazônia. Além disso, não dá para levar a sério a previsão de que o calor irá “savanizar” a Amazônia e “desertificar” o cerrado. Segundo o geógrafo Aziz Ab’Saber, ao contrário, o aquecimento será bom para a floresta, uma vez que o Brasil está sujeito às correntes marítimas. Com mais chuvas, as matas equatoriais cresceriam. E viveríamos todos na atmosfera úmida e quente, feita para as “fibras das palmeiras e os nervos dos poetas”, como definiu Euclides da Cunha após uma expedição na Amazônia.