“Confie em mim,” disse Obama

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Dilma Rousseff fez a lição de casa antes do encontro com Barack Obama, em São Petersburgo. Numa gentileza com o interlocutor, a presidenta usou a própria legislação americana sobre atos de espionagem, que prevê sete casos em que a escuta em país estrangeiro é autorizada, para mostrar que o Brasil não se enquadra em nenhum deles. Dilma lembrou que, através de José Eduardo Cardozo, tentou um acordo sobre escutas entre os dois governos, mas o vice-presidente Joe Biden barrou a ideia logo de cara. Lembrando que a diplomacia envolve custos e benefícios, a presidenta queixou-se de que até agora só tem tido custos. “Você precisa confiar em mim,” respondeu Obama. “Está falando com o presidente dos Estados Unidos.”

Jogral ou duelo na ONU
Já se sabe qual será o assunto do discurso de Dilma na abertura da Assembleia Geral da ONU. Óbvio: soberania nacional e espionagem. O tom dependerá das explicações que o governo americano oferecer para a ação da NSA no País. Por tradição, o Brasil tem direito ao discurso de abertura. Obama falará em seguida. Pode ser um jogral. Ou um duelo.

Perdeu, Cachoeira 
Ex-preso, ex-todo-poderoso de Goiás e ex-amigo de senador, o contraventor Carlinhos Cachoeira sofreu novo golpe. O Senado prepara-se para votar projeto que criminaliza os jogos de bingo pela internet. Cachoeira explora a jogatina virtual através do portal Brazil Bingo, com domínio no Caribe. Escutas da Operação Monte Carlo mostram que nos bons tempos Cachoeira foi capaz de convencer senadores amigos a manter o projeto na gaveta.

Impasse na fronteira
Assinado em 2008, quando Lula era presidente do Brasil e Nicolas Sarkozy da França, um acordo entre o Amapá e a Guiana Francesa pode morrer de inanição. Com projetos amplos, que envolvem exploração de ouro e criação de uma universidade, a proposta tem tantos adversários que nem sequer tem data para ser votada pelo Congresso.

Charge

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Fragilidade
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), chamou o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal para produzir um laudo sobre as galerias do plenário. Às claras, a restrição de público foi o argumento para inibir a baderna, mas nos bastidores os técnicos ficaram preocupados com a estrutura das galerias. Alves acatou as ordens e afirmou: “A imagem do Congresso já está ruim: imagina se cai tudo em cima da gente?”

Carona na saúde
A oposição desistiu de combater o programa Mais Médicos e até decidiu tirar uma casquinha. De olho em 170 mil agentes de saúde, deputados do PSDB prometem colocar na pauta projeto que cria o piso para os profissionais, no valor de R$ 950. Nos dois casos, a saúde pública agradece.

Próximo alvo
Depois de prender 22 pessoas acusadas de participar de esquema de desvio no Ministério do Trabalho, a Polícia Federal investiga operadores do mercado financeiro que usam a influência na pasta para intermediar negócios de crédito consignado.

Molina entrou numa longa fila
Se todos os rituais burocráticos forem cumpridos, o senador boliviano Roger Pinto Molina precisará esperar 15 meses para ter o pedido de refúgio político analisado pelo Conare, órgão do Ministério da Justiça responsável pelo caso. É um período equivalente à temporada que enfrentou na Embaixada em La Paz, de onde fugiu com auxílio de diplomatas brasileiros. A fila de quem quer refugiar-se no País já tem 2,3 mil pessoas e anda devagar. Resolve, em média, 150 casos por mês. Apesar da notoriedade do senador, não há quem considere conveniente ajudar Molina a furar a fila.

Condenação antecipada
Análise técnica de Anthero Meirelles, diretor do Banco Central, mostra que a falência do Banco Rural, envolvido em operações do mensalão, foi fruto direto do escândalo. Em 2005, quando o caso explodiu, as operações caíram 75%, 56 agências foram fechadas e 1.703 funcionários foram demitidos. Em 2012, no julgamento, os clientes correram ao guichê para sacar R$ 800 milhões.

Toma lá dá cá

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 Senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde

ISTOÉ
Reconhecer diplomas do Mercosul facilita a vinda de médicos sem exigência do Revalida?
Costa –
Certamente, pois já teríamos feito um estudo prévio para estabelecer critérios, aspectos unificados de currículo. Seria uma preparação para uma legislação específica.

ISTOÉ – Por que a lei de 2005, que unifica os diplomas do bloco, não foi regulamentada?
Costa –
Na área da saúde, a raiz de todo problema é a proteção do mercado de trabalho, não a discussão da qualidade do ensino em outros países.

ISTOÉ – Profissionais brasileiros são hostilizados por trabalhar em países do Mercosul?
Costa –
Formalmente, não há regras de reciprocidade. Mas o Mais Médicos vai ajudar o debate dos diplomas no Mercosul.

Rápidas
* Cartolas conseguiram uma vitória sobre o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que tenta controlar seu reinado em entidades de futebol. Aldo foi driblado pelos parlamentares, que incluíram o mandato de quatro anos como contrabando, na Medida Provisória 620/2013, que criou o programa Minha Casa Melhor.

* Num trabalho preventivo para evitar denúncias capazes de atingir o ministro Alexandre Padilha, o Ministério da Saúde começa a analisar contas de entidades beneficentes que têm convênio com o SUS.

* A TV Senado vai fazer cobertura ao vivo da Expoagro, em Alagoas, que reúne produtores do Estado. A participação da TV foi ideia do senador Benedito de Lira (PP-AL), com o aval do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ambos com negócios no setor.

* Numa agenda que traduz prioridades, no fim deste mês Luiz Inácio Lula da Silva completará 90 dias sem viajar para o Exterior.

Retrato falado

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 “Todo mundo faz (grampo telefônico) ”, disse a Dilma

O governo de Vladimir Putin, presidente da Rússia, mantém uma postura diferenciada diante da espionagem americana no Brasil Em público, seu porta-voz chegou a definir a atividade da NSA como “terrorismo.” Privadamente, Putin, cujo governo deu asilo a Edward Snowden, o antigo agente da CIA que divulgou os grampos, tem uma postura mais tolerante.

Questão de segurança

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 Está na mesa da ministra Gleisi Hoffmann o anteprojeto para regulamentar a atividade de segurança privada no País, essencial para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Falta a assinatura da presidenta Dilma. Hoje, há cerca 600 mil vigilantes atuando regulamente e mais um milhão de forma clandestina.

Erro médico
Chegou às mãos do ministro da Defesa, Celso Amorim, denúncia da Associação de Praças das Forças Armadas (Aprafa) de que o Exército usa, no atendimento médico de militares e seus familiares, enfermeiros sem registro profissional. São sargentos concursados que fizeram curso não reconhecido pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren). O Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, é um dos principais clientes desse contingente ilegal.

por: Paulo Moreira Leite
Colaboraram: Claudio Dantas Sequeira, Izabelle Torres e Josie Jeronimo