30/06/1999 - 10:00
Uma relação sexual de horas sem que nenhum dos parceiros atinja o orgasmo. Tortura? Para o mestre em yôga (assim mesmo com y e acento, por ser a linha pré-clássica) De Rose fazer isso melhora tudo na vida, dos cabelos ao desempenho profissional. "O corpo fica como uma caldeira, cheia de energia biológica, e vai distribuí-la para aquilo que ele precisar. Se a pessoa trabalhar, essa energia vai toda para a criatividade. Se estiver precisando de saúde, este superávit energético vai curar algum órgão." O sexo tântrico, inventado há cinco mil anos pela civilização drávida, que habitou a região onde hoje fica o Sul da Índia, é uma forma de adiar ao máximo o orgasmo para que o prazer se torne algo refinado e maximizado, como uma busca de autoconhecimento. Ejacular rápido envelhece e não aprimora os sentidos. Aos 55 anos, mestre De Rose pratica o yôga desde os 15. É presidente da Confederação Nacional e União Internacional de Yôga e também fundador da Universidade Internacional de Yôga em Portugal e da primeira Universidade de Yôga do Brasil, que, em parceria com algumas universidades católicas e federais, já concedeu diplomas de extensão a cerca de cinco mil instrutores. Recentemente criou um curso em etapas para ensinar o caminho para se atingir a "explosão nuclear", o prazer obtido pela via tântrica. "O que as pessoas chamam de orgasmo é apenas um espasmo nervoso. O que praticamos é um estado de paranormalidade erógeno." Escreveu também o livro Hiperorgasmo, lançado pela editora Martin Claret, que está em sua quarta edição. Mas desde já alerta que o sexo tântrico não é terapêutico nem atende àqueles que pretendem uma orgia. Se você já está ansioso para aprender, esqueça. O tantrismo exige tempo, paciência e uma dieta rigorosa: nada de "bicho morto".
O que as pessoas chamam de orgasmo é apenas um espasmo nervoso. Aquilo é apenas um vislumbre do prazer. E o que acontece é que as espécies todas foram programadas para que, através de uma pequena recompensa prévia, que era esse "orgasminho", tivessem em troca todos os inconvenientes de uma gestação e da reprodução. Estamos falando de um processo que vai levar a pessoa a um nível acima da normalidade. Ela pode ter orgasmos quantas vezes quiser, só que vai procurar reter e protelar. Em vez de ter o orgasmo rápido, adia meia hora. Depois mais meia hora. E dali a oito horas de contato sexual ininterrupto, por exemplo, tem a opção: ter o orgasmo ou descansar. Naturalmente, com toda essa energia retida, o orgasmo que vai ocorrer vai ser uma explosão nuclear. Mas também se pode protelar para o dia seguinte. Esse é o processo. Então, chega um momento em que não aguenta, perde o controle e tem o orgasmo. A energia que ele vinha guardando já está no seu sistema.
A pessoa vai comparar e só isso já é suficiente para convencer o praticante a reter, porque o prazer aumenta incomensuravelmente. A contenção orgástica não tem nenhuma contra-indicação e esses casais passam até a não brigar mais.
O sistema consiste no seguinte: atritar, atritar e quando chega perto de explodir, perto de romper a válvula, pára. Adia o desfecho. Então a caldeira, o corpo, fica cheia de energia. Ora, se essa energia biológica, está muito grande dentro do nosso corpo, o que vai acontecer? O corpo vai distribuir essa energia para aquilo que ele precisar. Se a pessoa fizer esporte, é evidente que essa energia vai toda para o esporte. Se ela trabalhar, essa energia vai para o trabalho, para a criatividade. Se estiver mal de saúde, é natural que ela direcione, automaticamente, este superávit energético para curar algum órgão.
Num contato sexual normal apenas se recomenda muito mais sensibilidade, muito mais carinho, muito mais tempo. As pessoas lidam com a sexualidade como uma necessidade fisiológica. Mas é uma coisa muito mais importante. Da libido depende absolutamente tudo. Depende a criatividade, depende a agressividade, depende a saúde, depende a longevidade, depende a aparência física do indivíduo, uma série de percepções extra-sensoriais e depende daí, também, a chave para o autoconhecimento. Todas essas coisas estão baseadas numa só, que é o cerne da criação dentro do indivíduo. O poder criador dentro de nós, é a sexualidade é a libido.
Não é um ritual como uma coisa mística. Mas, por exemplo, espalhar pétalas de rosa no caminho que a parceira vai pisar, vai caminhar, é uma coisa bonita. Não que seja obrigatório, que tenha de fazer sempre, mas imagina uma vez na vida pétalas formando um tapete até o leito de amor. É uma coisa que só valoriza. Música suave, iluminação de velas, perfume na casa…
O ambiente já sugere que ninguém vai saltar um em cima do outro e terminar rápido. Então, nesse momento, é natural que as pessoas façam a primeira etapa que é o olho no olho. Outro estágio é o falar e aí vai evoluindo. O objetivo não é chegar a uma penetração, o objetivo é chegar ao máximo do prazer, um estado que chamo de hiperestesia sensorial.
Tem uma porção deles. Um chamado mula bandha, em sânscrito, consiste numa contração forte e sucessiva dos esfíncteres do ânus e da uretra. A pessoa pode fazer esse exercício onde estiver, durante o dia. Quanto mais fizer, melhor. Para o homem e para a mulher. Aumenta a energia sexual, aumenta o domínio da musculatura (no caso da mulher, da musculatura vaginal) e no momento do contato sexual, essa contração ajuda a reter. Outra coisa que ajuda é reter a respiração. Existe um texto, numa escritura hindu, que diz assim: quando o prana pára, o sêmen pára. Prana é a energia vital que é comandada pela respiração. No momento em que você pára a respiração, pára tudo.
A média mundial é de 7,5 minutos. A brasileira é de 15 minutos.
Digamos assim que, entre as pessoas que praticam, se alguma amiga disser para a outra que o companheiro teve um contato de uma hora de duração, todas as outras lamentam.
Foi um desastre, foi ejaculação precoce. Um aluno nosso disse que mantinha um contato sexual de seis horas. Uma pessoa virou para a esposa, ao lado dele, e perguntou se ele estava se exibindo, e ela respondeu que ele estava sendo modesto. O interessante deste processo é que, independentemente dos efeitos para saúde, para longevidade, e da meta que é alcançar o autoconhecimento, a maximização do prazer é uma coisa tão extraordinária, é indizível. É um estado de paranormalidade erógeno, é uma coisa completamente indescritível.
Com relação à idade e saúde, não. A restrição que nós fazemos, no caso de curso, é a cultural, pois se a pessoa não tem já uma bagagem, ela não vai acompanhar a linguagem.
Eu acho que não. Se a gente tivesse a intenção de instalar o tantra como filosofia de vida da população toda, isto iria produzir um caos social. Temos aí os nossos quatro mil anos de repressão numa sociedade patriarcal, estamos condicionados a cumprir ordens. Essa é uma prática libertária para pequenos grupos, criada há cinco mil anos numa sociedade matriarcal.
Existe o grupo que leu o livro ou assistiu a alguma palestra e consegue entender as implicações dessa prática. Esse é o nosso público, o consciente e responsável. Depois, tem o grupo que resolveu buscar uma terapia sexual, porque ele está com problemas de impotência ou frigidez, esse não é o nosso público. Porque o nosso trabalho não é terapêutico. E o terceiro grupo, que quer festa, orgia mesmo. Esse é completamente equivocado. Candidato assim até dispensamos.
É uma filosofia comportamental, porque vai traçar normas. Se adotá-la, vai mudar a vida completamente: vai mudar a forma do corpo, a saúde, a expectativa de vida, o rendimento na sexualidade. Vai até enriquecer. Porque ao mudar o rendimento no trabalho, ela vai produzir mais e vai ganhar mais.
Tem muito picareta no mercado que pode vender assim, não é o meu caso. Tenho mais de 40 anos de estudo. Isso é uma filosofia.
Para que a pessoa entre num grupo prático, nós pedimos à pessoa que não tenha nenhum vício e que ela tenha um conceito de higiene superlativo. Não pode fumar, não pode tomar álcool, nem drogas. Nenhuma substância que altere o estado de consciência.
Todo mundo confunde o que é vegetarianismo. Estou falando de não comer bicho morto.
Vai fazer um sexo tântrico de menor qualidade. Vai render menos.
Nós temos canais energéticos pelo corpo, que essas substâncias mais grosseiras obliteram. Nós ficamos com uma espécie de esclerose nesses canais. Se a energia flui, ela chega a um nível, nessa prática, que se você passar a mão de leve na pele do parceiro, se você expirar e o parceiro inspirar o seu alento, isso já pode produzir um orgasmo. Dá muita energia, é muito forte, fluindo por todos os poros. Você não está tendo um contato genital, você está tendo um contato integral. Agora, entope aqui, entope ali, porque fumou, porque bebeu, porque tomou droga ou porque comeu bicho morto, realmente o rendimento é muito comprometido.
Do senso comum é assim: quanto mais você estiver com hormônio circulando no seu sangue, mais você vai ter brilho no olhar, mais você vai ter reflexos rápidos, a musculatura em dia, menos você vai ter peso, gordura.
Nos Estados Unidos, na Califórnia, em San Francisco, sim.
No tantra não se menciona nada. De forma que a conclusão a que se chega é que não quiseram mencionar. Não existe nenhuma referência, a tradição não menciona nada a favor nem contra.
Não.
Pílula atrapalha porque mexe com os hormônios. A vasectomia não atrapalha porque os hormônios continuam sendo produzidos. Circuncisão não atrapalha, é até bom.
Em geral são pessoas excessivamente sensíveis. Digo excessivamente em comparação com o nosso mundo, elas seriam pessoas muito mais sensíveis do que o normal.
A frase é assim: "Shiva sem shakti é shava." Shava quer dizer cadáver, "shakti" quer dizer energia, mas pode significar esposa; Shiva é o nome de uma personagem, o criador do yôga. Parece que ele tinha muita energia sexual e tinha três mulheres, três shaktis. Mas mesmo ele, Shiva, sem shakti é shava, quer dizer, o homem sem a mulher é um cadáver. Mas como depois ele foi divinizado, também pode ser traduzida essa frase, como: "A divindade sem mulher não existe, está morta." Por que a força interior do homem era dada pelo sexo sacralizado através da mulher. A mulher era vista como deusa porque tinha o dom de gerar e por isso tinha uma posição privilegiada.
Como método anticoncepcional não funciona. É o contrário, até. As pessoas ficam extremamente mais férteis, porque, primeiro, aumentando a libido, os hormônios sexuais, a tendência é aumentar a fecundidade.
Não, isso não altera. Eu tenho acompanhado muita gente – são 40 anos que eu lido com isso –, casais de todas as idades, de várias nacionalidades e não tem uma regra. Para uns, o tantra induziu a uma monogamia, o parceiro começou a lhe dar tal prazer que ele não precisava de mais ninguém. Para outros, ao contrário, eles eram monogâmicos e se tornaram poligâmicos porque disseram: "O exercício tântrico não tem nada a ver com fidelidade." É exercício, quer dizer, a pessoa pode ter um parceiro fixo e fazer o exercício independentemente com outra pessoa, como exercício.
O ciúme é uma grosseira falta de educação com o parceiro.