Após um ano e meio orbitando a Lua, o destino da Lunar Prospector foi selado. Vai virar bucha de canhão. No dia 31 de julho, a primeira sonda da Nasa a estudar o satélite terrestre em um quarto de século será arremessada contra uma das crateras do pólo sul lunar. A nave, de 161 quilos, colidirá a uma velocidade de 1.770 km/h, como se fosse um meteoro de duas toneladas pulverizando tudo a sua volta. Dessa destruição os cientistas esperam ver erguer uma nuvem de pó, detritos e, quem sabe, até 18 quilos de vapor d’água que poderão ser detectados desde a Terra por avançados telescópios. Essa é a razão do sacrifício de uma sonda de US$ 63 milhões. A Lunar Prospector foi lançada em janeiro de 1998 com a missão de confirmar uma hipótese levantada por uma outra sonda. Em 1994, a Clementine, do Pentágono, coletou dados sugerindo a existência de depósitos de gelo no fundo de crateras no pólo sul lunar. Dispor dessa água é condição fundamental para a sobrevivência de astronautas e para se construir bases permanentes.

Ao longo dos últimos 17 meses, a Prospector detectou depósitos de gelo quase puro em ambos os pólos do satélite, misturados a uma camada de até meio metro de poeira. Supõe-se que o gelo seja originário de cometas que lá caíram e que as crateras escondam até 100 bilhões de litros de água, equivalente a 100 mil piscinas olímpicas. Diante desse volume, é incrível pensar que a missão suicida da Prospector tem apenas 10% de chances de sucesso. Segundo David Goldstein, o astrônomo da Universidade do Texas que sugeriu à Nasa destruir a nave, ela será lançada contra uma cratera de 50 quilômetros de diâmetro, mas pode não acertar o gelo em cheio ou, mesmo que acerte, o impacto pode não ser suficiente para erguer uma nuvem de vapor d’água observável da Terra.

De uma forma ou de outra, o destino da Prospector foi selado. Seu fim pode não comprovar a existência de água, mas inaugurará uma era de missões deliberadamente lançadas contra corpos extraterrestres. A segunda estrela cadente nessa galeria de tiro ao alvo cósmico é a Espaço Profundo 2, da Nasa. Ela decolou em janeiro e neste exato instante está no meio do caminho para Marte. Ao chegar lá, em 3 de dezembro, lançará de dezenas de quilômetros de altitude duas estacas recheadas da mais alta tecnologia. Ambas impactarão contra o solo a 750 km/h, penetrando até dois metros nele. Feito isso, as estacas enviarão dados sobre a composição e a temperatura do solo, bem como a presença de traços de água. Mais uma vez é a fonte da vida na Terra que os cientistas insistem em encontrar. Vencer esse desafio equivale a alavancar a colonização do sistema solar.

Hubble dos raios x

Onze dias antes da morte da Lunar Prospector, o ônibus espacial Columbia colocará em órbita um telescópio de sete metros de altura avaliado em US$ 1,4 bilhão. Batizado Chandra, homenagem ao físico indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, o novo observatório não substituirá o famoso telescópio espacial Hubble, cujas imagens revelaram um universo de cores surpreendentes. Chandra complementará a obra do Hubble, permitindo aos astrônomos perscrutar o cosmo sob a ótica do lado escuro da luz, o dos raios X. Assim como a radiação gama, os raios X são invisíveis porém energéticos e letais, fruto dos mais violentos cataclismas cósmicos, como a explosão de estrelas gigantes (as supernovas), originando os famigerados buracos negros. Foi por seu estudo desses ralos universais de matéria e energia que Chandrasekhar ganhou o Nobel de 1993. O telescópio que leva seu nome já tem uma primeira missão: determinar, sem sombra de dúvidas, qual é a idade do Big Bang, que hoje varia entre 13 bilhões e 18 bilhões de anos.