Tarzan, o lendário homem-macaco, sempre foi sinônimo de lucros. Ao ser inventado no início do século pelo americano Edgar Rice Burroughs – um ex-soldado da Cavalaria americana –, salvou seu criador da penúria total. O livro Tarzan of the apes, publicado em 1914, mudou a vida de Burroughs e de todos os seus descendentes diretos, que hoje controlam a lucrativa Edgar Rice Burroughs Inc. Não chegou a ser surpresa, então, o pioneiro Tarzan do cinema, protagonizado por Elmo Lincoln, ter se tornado a primeira produção da história de Hollywood a faturar US$ 1 milhão em bilheteria. Agora é a vez de a Walt Disney Pictures encher seus cofres com as aventuras do herói da floresta. Tarzan (Tarzan, Estados Unidos, 1999), o desenho animado que tem estréia nacional na sexta-feira 2 em versões dublada e original, amealhou US$ 34,1 milhões no primeiro final de semana de exibição nos Estados Unidos. Marca superada no gênero apenas pelo O rei leão, em 1994, que atingiu a cifra de US$ 41 milhões em período equivalente.

Como se vê, a paisagem africana é um cenário de bons presságios para a Disney. Talvez por isso seja mostrada de forma tão grandiosa. Os diretores Kevin Lima e Chris Buck fizeram uma espetacular recriação da selva onde vive o bom selvagem adotado por gorilas, que pula entre árvores gigantescas imitando os movimentos de um surfista balançando seus longos dreadlocks. A animação cada vez mais bem cuidada, porém, não é tudo. O Tarzan da Disney – que na versão dublada ganhou a voz do galã global Eduardo Moscovis – é um herói carismático, movido por conflitos existenciais. E, ao contrário de algumas versões cinematográficas, este herói não é apenas um Hércules sem cérebro, mas um ser diante do dilema de escolher entre a civilização e a selva. Sua dúvida se torna ainda mais difícil ao dividir o amor que demonstra pela mãe adotiva, a gorila Kala, com a espevitada humana Jane. A porção lacrimosa do desenho, contudo, não ofusca as sequências que agradam em cheio as crianças menores.

Correrias e brincadeiras ficam a cargo dos costumeiros personagens cômicos, aqui vividos pela gorila Terk e pelo elefante Tantor. São eles que, num momento bem engraçado, invadem o acampamento onde vive Jane e promovem uma jam session, batucando em panelas e numa máquina de escrever. Trata-se do número musical que mais exigiu de Phil Collins que, ao lado de Mark Mancina, compôs a trilha sonora, gravada em cinco idiomas: inglês, francês, alemão, italiano e espanhol. No Brasil, seis dos temas musicais são entoados pelo vozeirão de Ed Motta.