É uma receita velha, mas ainda dá resultados. Junte alguns rapazes bonitos, com razoável talento para harmonizações vocais e requebros coreografados, crie roupas que possam fazer moda e os presenteie com um repertório de baladas açucaradas sob medida para domingueiras. Está pronto mais um grupo que, a exemplo de New Kids on the Block, que sucedeu os Menudos, engrossa outra onda musical. Nos Estados Unidos, a explosão do som adolescente – capitaneado pelo quinteto Backstreet Boys, há um mês imbatível no primeiro lugar das paradas com o álbum Millennium – rende tanto que os executivos da indústria fonográfica tão cedo não querem desviar seus investimentos dos chamados boy groups. Só para se ter uma idéia, o BSB – como já ficou conhecido – bateu o recorde americano, antes conquistado pelo cantor country Garth Brooks, vendendo mais de 1,1 milhão de discos na semana de lançamento de seu terceiro CD. No Brasil, não tem sido diferente. Em sete dias a banda bateu nas 400 mil cópias e, no espaço de um mês, estacionou no segundo lugar, impulsionada pelo sucesso instantâneo da balada I want it that way.

A sensação dos cantores-modelos não se limita aos Backstreet Boys. As prateleiras das lojas estão abarrotadas de conjuntos do gênero como ’N Sync, Five, Boyzone, Ultra, 98º e Another Level, sem falar de coletâneas como Boys, que reúne sucessos de vários destes grupos. As meninas os adoram, mas seus namorados nem tanto. Em casa, porém, qualquer mãe os aprova. Definitivamente eles não são artistas que inspiram matanças em escolas secundárias como aconteceu recentemente com o multidemoníaco Marilyn Manson. Quem ouve os discos dos garotos saberá de cor os ingredientes da receita inofensiva. Invariavelmente, as letras falam de amor da forma que uma adolescente sempre quis ouvir do apaixonado. No visual, então, todos parecem clonados. Basta comparar, por exemplo, o Backstreet Boys com o seu arqui-rival ’N Sync, que emplacou a soma de sete milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos. Outras coincidências pululam neste mundo teen musical. As duas bandas são de Orlando, contam com dois integrantes loiros e três morenos e, propositadamente, incluem o bad boy que foge do visual comportado dos demais. Nas canções também não escapam de ser parecidos. Em Millennium, o BSB canta uma música chamada Don’t want you back enquanto o ’N Sync, em seu álbum homônimo, ataca com I want you back. Puro acaso? Não, ambas foram compostas pela mesma pessoa.

Fãs radicais não ligam, apesar das ressalvas que cada uma faz para seus ídolos. A paulistana Sue Ellen Cury, 14 anos, acha que o ’N Sync imita bastante o BSB, de quem é admiradora. Caçula de uma família de quatro filhos, ela gasta até R$ 30 por mês para aumentar sua coleção de itens com a griffe do grupo. Em dois anos, já acumulou três álbuns de recortes, um de pôsteres e 14 fitas de vídeo com shows e entrevistas, sem falar da discoteca que inclui CDs piratas e os de tiragem limitada. Seu sonho, contudo, é ver a banda de perto. No ano passado, quis ir com uma amiga assistir aos espetáculos na Argentina. O pai, obviamente, não deixou. Agora, contando nos dedinhos os meses que faltam para o grupo se apresentar no Brasil, no início do ano 2000, Sue Ellen já arquitetou seu plano. "Vou ficar seis dias na porta do estádio para conseguir um lugar na frente do palco. E minha irmã mais velha já disse que se tiver dinheiro vai pagar para eu me hospedar no mesmo hotel que eles", afirma, com um pequeno brilho nos olhos.

Sue Ellen não está sozinha na sua paixão pelos rapazes do Backstreet Boys. Segundo a Virgin, gravadora do quinteto no Brasil, existem mais de 200 fãs-clubes da banda espalhados somente no Estado de São Paulo. Palmas então para o empresário americano Louis J. Pearlman, 44 anos, o homem que está por trás do renascimento do som adolescente que invadiu o cenário musical depois da decadência do rock alternativo. Dono da Trans Continental Media, conglomerado que engloba companhia aérea, gravadora, estúdio, rede de pizzarias e até uma famosa trupe de stripers masculinos, Pearlman se interessou pelo show biz teen quando, no início da década, alugou aviões da Trans Continental Airlines para o New Kids on the Block. E se deu bem.

Acusado pelos BSB de ter faturado US$ 10 milhões e ter repassado apenas US$ 300 mil, a banda rompeu com o apelidado Big Poppa (paizão), em maio do ano passado. Pearlman não se deixou abater. Além de ter contratado o ’N Sync, o que explica a semelhança entre eles, formou pelo menos mais três conjuntos no gênero, C-Note, Lyte Funkie Ones e Take-5. Este último é uma resposta ao bem-sucedido grupo britânico Five, que simula Prince e KC & Sunshine Band com seu funk endereçado a garotas às voltas com o primeiro sutiã.

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