A tragédia das nove crianças que morreram afogadas no sábado 19 num acampamento às margens do rio Poti, no Piauí, chocou todo o Brasil. Assustou muito mais, contudo, os pais que às vésperas das férias escolares de julho planejam enviar suas crianças para uma colônia. Como saber se a aventura escolhida será segura? Até hoje ainda não se criou um órgão fiscalizador para diferenciar um terreno com barracas de um resort infanto-juvenil. Há apenas um mês criou-se em São Paulo uma associação para começar a regular o setor. Até agora só 12 acampamentos são membros da Associação Brasileira de Acampamentos Educativos – um universo mínimo diante dos cerca de 300 estabelecimentos que existem no País. A situação se complica quando se calcula que pelo menos 30 mil crianças por temporada frequentam acampamentos no País. O ideal seria que os pais visitassem o local para se certificar de que seu pimpolho não vai ser transformado em um Indiana Jones às avessas. Mas, como nem sempre isso é possível, há uma série de ações preventivas que podem ser tomadas para que tanto pais quanto filhos possam relaxar nas férias. O exemplo de irresponsabilidade e negligência no Piauí dá a noção da importância dessas atitudes.

Cerca de 40 crianças, a maioria com idade entre dez e 14 anos, partiram de Teresina na noite de sexta-feira rumo ao local de acampamento, na zona rural da cidade. Eram monitoradas por Clayton Félix da Silva, 20 anos, o único adulto do grupo. O prudente seria que cada dez crianças estivessem sob supervisão de uma pessoa mais velha. "Quando elas têm entre cinco e oito anos, é melhor um instrutor para cada grupo de seis", afirma Luís Gonzaga, do Sítio do Carroção, que há 30 anos promove acampamentos no interior de São Paulo. "Aqui para ser monitor é obrigatório ser maior de idade, ter curso superior – a maioria é formada em Educação Física – e fazer um curso preparatório conosco", explica Gonzaga. Como o perfil dos monitores varia de lugar para lugar, é bom saber se o acampamento funciona só em temporada ou o ano todo. Funcionários temporários nem sempre são treinados e, por não ter vínculos, podem não se sentir tão responsáveis. No trágico caso do Piauí, a improvisação foi total. Muitos pais, como Maria dos Santos, mãe de Moisés, uma das vítimas, nem sequer conheciam Clayton da Silva.

Segundo o inquérito da polícia do Piauí, Silva abandonou as crianças às margens do rio para ir a Teresina dar uma entrevista a uma emissora de tevê. Na manhã de sábado, os campistas foram escovar os dentes e tomar banho no rio. Um deles começou a se afogar e os demais pularam na água para tentar salvá-lo. A equipe de apoio de Silva se resumia a três adolescentes, enquanto a estrutura de um bom acampamento deve contar com médico e transporte. Por quarto, recomenda-se nem um número muito pequeno de crianças, nem muito grande. "Trinta é o ideal", dimensiona Luís Gonzaga. Um dos modos de avaliar um acampamento é perguntar quais escolas o utilizam. "Além das instalações, atentamos para o tratamento dado às crianças. Como um monitor reage, por exemplo, numa situação de conflito entre dois garotos. Se ele se ausenta ou se tenta uma conciliação. A segunda atitude condiz com a conduta pedagógica esperada", afirma Ricardo Mesquita, diretor do colégio Oswald de Andrade, em São Paulo, que há 21 anos leva anualmente seus estudantes para colônias de férias.

O padre americano Edmund Leising, 80 anos, presidente da Fundação Paiol Grande, o primeiro acampamento do País, diz que muitos deles estão mais preocupados com o negócio do que com a educação dos jovens. "Acho que propaganda demais é um bom motivo para se desconfiar", diz o padre. "O fundamental é saber se a criança quer ir, ou se a viagem é um desejo apenas dos pais", sublinha Afonso Vívolo, presidente da recém-criada associação de acampamentos. Foi expressando sua vontade que Julia Mota, 11 anos, sugeriu a sua mãe passar alguns dias no Sítio do Sobrado, em Guararema, no interior de São Paulo. É a primeira vez que Julia vai a um acampamento. "Eu me informei com a mãe de uma colega dela, que já foi e gostou, e confiei na indicação", conta a historiadora Adriana Lopez, 40 anos. "Vão ser férias mútuas, um descanso para todos", diz a mãe, aliviada.