Todo médico recomenda que é preciso controlar o stress para não ficar doente. E todo mundo sabe que se é mais feliz quando se está menos tenso. Mas como relaxar? Para muita gente, só a obrigação de ter de fazer isso já se torna mais um fator estressante. E, para piorar, a maioria dos estressados fica cansada só em pensar que algumas técnicas de relaxamento como a prática da ioga ou da meditação exigem esforço para matricular-se e frequentar as aulas. Mas, para a alegria dos estressados, hoje é possível encontrar uma variedade de lançamentos de produtos e objetos que dão uma mãozinha na difícil tarefa de relaxar. São produtos aromáticos, velas, objetos coloridos baseados na cromoterapia e massageadores corporais, entre alguns dos artifícios que ajudam a distrair o lado racional do cérebro e deixar a mente livre, descansando.

Quem faz uso desses artefatos garante sua eficácia. Eles têm sido um recurso muito útil na vida da secretária-executiva Ornela Abla, 36 anos, ainda mais agora que ela está desempregada. Ornela tem um kit doméstico para controlar a ansiedade que inclui plantas, velas e incensos, entre outras coisas. "Esse ambiente colabora para uma harmonia interna e me ajuda a não ficar pensando o tempo todo no fato de que estou sem emprego", diz. Na verdade, há uma explicação para esse tipo de efeito. Segundo a aromaterapia, técnica da medicina alternativa que estuda as propriedades aromáticas das plantas e as aplica no tratamento de doenças, aromas de lavanda, gerânio, melissa e flores de laranjeira atuam no controle da ansiedade, do stress e da insônia. Uma ou duas gotas dessas essências podem ser colocadas, por exemplo, em aromatizadores de ambientes, no creme hidratante para o corpo ou em óleos de banho.

Para quem tem alergia ou não se sente bem com esses perfumes, no entanto, as lojas e os empórios terapêuticos oferecem outras opções. O estímulo para o relaxamento pode vir de massageadores para costas e ombros, de objetos coloridos – a violeta tem uma frequência vibratória antiestressante – e até do efeito de velas acesas, que também se sofisticam cada vez mais. Essas últimas, segundo a tradição do feng shui, milenar técnica chinesa para a harmonização de ambientes, transformam energias pesadas em leves.

Sem acrobacias Como se vê, esses produtos podem auxiliar a diminuir o ritmo de vida alucinante sem exigir grandes acrobacias. O prazer que proporcionam pode seduzir o indivíduo na busca de relaxamentos cada vez mais profundos. Nessa tarefa de fazer com que mente e corpo fiquem descansados, no entanto, o desafio é encontrar uma forma de descontrair que possa ser carregada a qualquer lugar e ativada a qualquer hora. "E nada melhor para isso do que a própria respiração", afirma a psicóloga especializada em stress Ana Maria Rossi, de Porto Alegre. Nessa estratégia, mais uma lição. Ninguém precisa ir para o Tibete para aprender como se respira. Uma dica é inspirar profundamente, reter o ar por alguns segundos e expirar lentamente. Pode parecer simples demais, é justamente por isso que funciona. A técnica é uma carta na manga do administrador Daniel Krischke, 44 anos. Ele era cético até que notou as mudanças em um colega de trabalho que se tornou menos neurótico. "Achava que minha atividade profissional era incompatível com relaxamento", recorda. Hoje ele dedica seu autocontrole aos exercícios respiratórios que pratica, principalmente nos momentos tensos que enfrenta na empresa. "Respirar corretamente me ajuda a manter a cabeça clean e a capacidade de reflexão e decisão fica mais ágil", diz.

 

Hábito Na verdade, todos esses são artefatos que ensinam a arte de relaxar. Afinal, relaxamento é um hábito que se cria. Requer um certo empenho no começo, mas, assim como escovar os dentes, torna-se cada vez mais automático. "É um esforço passar o fio dental a cada escovação, mas com o tempo o ato fica tão fundamental, que só se considera que os dentes estão limpos depois de utilizá-lo", compara a terapeuta indiana, Vraja Devi, de São Paulo. Não há segredo. Como toda arte, no entanto, é preciso persistência para aprimorá-la. "O que mais frustra o iniciante é verificar que começa o relaxamento hoje e não se sente novo em folha depois de cinco minutos", afirma a psicóloga Ana Maria Rossi. "As pessoas esquecem que levaram um tempo para ficar estressadas e vão precisar de um intervalo para melhorar", completa.

Reconhecer o imediatismo é um grande passo para quem pretende arejar a cabeça. Mas há outros motivos que atravancam o relaxamento e merecem ser contornados. Um dos mais importantes é a inabilidade para parar de pensar. "Desde criança aprendemos que para ser úteis na vida temos de estar sempre pensando. Chega um ponto, ninguém sabe mais o que é ficar de pernas para o ar", diz Ana Maria. "Por isso há tanto executivo dependendo de Lexotan ou uísque para se ‘desligar’ dos negócios." Para ajudar, há algumas dicas, como a de trocar os pensamentos do dia-a-dia por outros menos nervosos. Outra marca típica dos estressados é a incredulidade. "O lado racional é tão forte que eles precisam de evidências de que suas iniciativas valerão a pena", diz Ana Maria. "Ao colocar um CD new age, por exemplo, em vez de sentir a música e se deixar levar por ela, a pessoa racionaliza se aquilo não é uma enganação, se está fazendo efeito, etc., anulando a possibilidade de relaxamento."

No caso da música, porém, há respostas científicas para convencer o sujeito mais incrédulo a ligar o aparelho de som. A terapeuta musical Rosalid Pratt, professora da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, tem pesquisado o efeito de Mozart, Bach ou Ravel nos hospitais e constatou que os pacientes apresentam diminuição na aceleração cardíaca e na pressão arterial. Outro pesquisador, Don Campbell, que fundou o Instituto da Música, Saúde e Educação dos Estados Unidos, provou que as pessoas ficam apaziguadas ao ouvir Mozart. Ele mediu a frequência das ondas cerebrais dos voluntários e observou que elas diminuíam ao ouvir as Sinfonias nº 4, 6, 18 e o Piano concerto nº 1 em dó menor do compositor austríaco. Certamente não custa tentar. Mesmo porque até os mais durões reconhecem que com a competitividade da vida moderna, ficar frouxo, de vez em quando, faz muito bem.

Agradecimentos: Magma Empório Terapêutico, Nature Market, Neal’s Yard e Velas ao Vento, de São Paulo.