Vamos encarar os fatos. Os 100 ursos panda que vivem em cativeiro têm muita dificuldade para se reproduzir. Dos 182 filhotes que nasceram em reservas e zoológicos desde 1963, só um terço sobreviveu além da infância. Já nas florestas de bambu da China restam apenas mil deles, número muito inferior ao mínimo de cinco mil indivíduos necessários para garantir a diversidade genética e, portanto, a sobrevivência de qualquer espécie, como afirmam os especialistas. Somando todos esses fatos, a conclusão é só uma: o panda vai desaparecer dentro de poucos anos. Ou não? Na segunda-feira 21, geneticistas da Academia Chinesa de Ciências levantaram a possibilidade de colocar um final feliz nessa crônica de uma morte anunciada. Geraram o primeiro clone de embrião da espécie. A equipe do doutor Chen Dayuan extraiu núcleos de células de uma panda morta e os introduziu em óvulos de coelho. Um deles vingou e suas células começaram a dividir, tornando-se embrião.

Isso aconteceu há dez meses. Até esse ponto, a única alteração feita pelos especialistas na técnica criada para gerar a ovelha Dolly, em 1996, foi o uso do óvulo de coelha. A medida teve de ser tomada devido à mais absoluta falta de óvulos de panda – quase não existem fêmeas da espécie em idade fértil. Essa realidade obriga os biólogos chineses a, nesse exato instante, tentar identificar fêmeas de diversas espécies de mamíferos de grande porte que possam servir como mães-hospedeiras, tendo o embrião implantado em seu útero. A escolha deve recair sobre uma ursa, parda ou marrom. Caso se encontre a candidata à mamãe e a gestação prossiga sem sustos, nascerá em 2000 um clone de panda. Mas nem Dayuan conta com essa possibilidade. Ninguém mais do que ele sabe que, para Dolly existir, o biólogo escocês Ian Wilmut clonou outros 433 embriões. Todos morreram, sinal que Dayuan tem muito trabalho pela frente. Espera clonar um primeiro animal no máximo em cinco anos.

Os pandas estão desaparecendo em razão de seu modo tão peculiar de alimentação. Apesar de originalmente carnívoros como seus primos brancos do Ártico, não se sabe por que eles evoluíram para comer folhas de bambu, e de um tipo todo especial que só cresce nas áreas montanhosas de três províncias no Sudoeste chinês. Por causa dessa aparente disfunção, esses animais de mais de 100 quilos precisam se alimentar constantemente. Passam a maior parte dos seus 15 anos de vida devorando diariamente até 14 quilos de folhas em banquetes que duram em média 14 horas. Tudo isso para obter a mesma quantidade de nutrientes contidos em uns bons três quilinhos de carne. Haja bambu para alimentar os pandas que restam! E há cada vez menos bambu. O avanço da fronteira agrícola já reduziu em 50% a vegetação dos últimos refúgios da espécie. A situação é desesperadora. Daí a tremenda importância do embrião. É o primeiro passo para salvar a espécie, e muitas outras. O próximo candidato à clonagem é o tigre. Sobram 4.500 na natureza. Se nada for feito, eles somem em dez anos.