No livro “1984”, do escritor britânico George Orwell, o “Grande Irmão” tenta controlar tudo e todos, com olhos que espiam cada passo e atitude de seus subordinados. Cria assim uma grande comunidade controlada e escravizada. E como a imitar a ficção, tal qual um “Grande Irmão”, o presidente americano, Barack Obama, deu-se o direito de bisbilhotar nações soberanas e chefes de Estado, com predileção até o momento pela presidenta brasileira, Dilma Rousseff, que teve mensagens e documentos sigilosos interceptados. Foi uma afronta revelada a público em rede nacional de tevê, que coloca em constrangimento não apenas o governo como também seus cidadãos. A surrada alegação de se tratar de procedimento rotineiro para fins de melhoria das relações não convence nem retira o mal-estar. Um clima de desconfiança nas relações com os EUA tomou conta. E deve trazer consequências negativas na relação bilateral mais adiante, independentemente de pedidos formais de desculpas. Não é cabível no concerto das nações que os laços se pautem por invasão de informação, sem qualquer conflito ou estado de guerra em curso. Tratar parceiros com essa postura é desconsiderar o valor da relação, diminuindo o status dos interlocutores à condição de subjugados. Algo que o Brasil não pode aceitar sob nenhuma hipótese. Diante das evidências, cabe a urgente deliberação na ONU e em organismos multilaterais de regras e leis que disciplinem o uso tecnológico nesse campo e preservem os direitos dos países-membros. Por ter sido vítima e alvo preferencial, o Brasil deveria sim liderar um movimento de exigências nesse sentido. Não se imagine que são limitadas as ações possíveis de resposta. Pela estatura e influência que exerce mundo afora, nosso país possui condições de capitanear a reação a um ato inamistoso que extrapolou todos os códigos de conduta aceitáveis. Violação de dados e da privacidade alheia é um tema que tomou conta das rodas de conversa e se converteu na grande questão desse novo milênio com o avanço descontrolado dos meios para exercer essa espionagem indecente. A deixar seguir tal processo, a sociedade global devassada chegará a um perigoso estágio que poderá tornar insuportável a convivência. É preciso barrar essa escalada de vazamentos ilegais e dos abusos do poder em qualquer âmbito, pessoal ou profissional.