Foram cinco tentativas até que, na semana passada, a nadadora americana Diana Nyad, de 64 anos, atingiu seu objetivo. Ela nadou cerca de 180 quilômetros para cruzar as águas que separam Cuba dos Estados Unidos. Saiu de Havana e, após quase 53 horas, chegou à praia de Key West, na Flórida, onde emergiu com os lábios inchados por causa do sal, queimaduras solares e de águas-vivas e quase sem conseguir andar. A vitória da americana é um marco. Diana tornou-se recordista em nado sem assistência e a primeira pessoa na história a concluir essa travessia. As braçadas firmes e a disciplina da nadadora também representam uma sólida contribuição para um novo perfil de sexagenários: gente muito disposta, com capacidade mental e física para empreender e obter excelentes resultados em grandes desafios. Sem dúvida, um contraponto ao estereótipo de que o melhor a fazer depois na sexta década de vida é ficar em casa de pijama. “Não devemos desistir nunca”, disse ela após a chegada. “Nunca se é velho demais para perseguir um sonho.”

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META
Diana Nyad, na chegada à Flórida: "Não devemos desistir nunca",
disse ao conseguir o feito na quinta tentativa 

Nas assessorias esportivas, que se multiplicam para dar suporte a atletas amadores, é crescente o número de pessoas que entram nos 60 com vigor de sobra. Ao contrário do que se pensa, a maioria não foi atleta a vida inteira. Em geral, começaram algum tipo de treinamento entre os 40 e 50 anos e incorporaram o hábito às suas vidas. Em algumas provas de corrida eles são mais de 9% dos participantes, segundo dados da Corpore, maior clube de corredores do País. “Muitos treinam porque querem enfrentar provas como as grandes distâncias das ultramaratonas”, explica o professor de educação física Aulus Sellmer, da assessoria 4any1, de São Paulo. Ultramaratonas são percursos mais longos do que os tradicionais 42 quilômetros. Sellmer afirma que vencedores como a americana Diana prepararam não só o físico, mas também a mente para a empreitada. “Quem vence esses desafios é determinado, não desiste por fadiga, tem foco e concentração”, diz ele. Por isso, entre os recursos do treinador, há métodos como a visualização, que leva a pessoa a se imaginar em meio ao obstáculo e diante dos seus aspectos negativos e positivos.

A florista Lucina Ratinho, 69 anos, é um exemplo da transformação promovida pela corrida. “Há 12 anos, fui procurar um treinador porque estava muito gorda e sou baixinha. Mudou minha vida. Tomei gosto e hoje sou ultramaratonista”, conta Lucina, que já ganhou mais de 350 medalhas e completou uma prova de 108 quilômetros. “Não preciso tomar remédios e treino três vezes por semana em um parque”, diz ela, às vésperas de completar 70 anos.

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DISCIPLINA
Álvaro Teno, 66 anos, alterna musculação e corrida seis vezes por semana.
A ultramaratonista Lucina Ratinho, 69, já completou uma prova de 108 quilômetros

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O executivo de tecnologia da informação Álvaro Teno, 66 anos, prefere percursos mais curtos. Corredor há 34 anos, ele fez cursos na Universidade de São Paulo para entender melhor o que acontece com o corpo humano com a passagem do tempo e ajudar no planejamento de sua planilha de exercícios. “Treino uma hora por dia, seis dias por semana. Faço musculação e esteira, entre outras atividades, para preparar todo o corpo”, diz o maratonista. O treinador Mário Mello, que está à frente da equipe de corrida Mário’s Team, em São Paulo, reforça a importância da musculação. “Está provado que, com a musculatura fortalecida, haverá menos lesões e problemas nas articulações, além de proporcionar um ganho muito grande em aspectos como a estabilidade e o equilíbrio, que sofrem perdas com o passar do tempo”, afirma Mello. O treinador enfatiza também os efeitos socializantes dos treinos. “As pessoas se conhecem, sentem-se mais motivadas e se divertem. Faz bem para a mente”, diz. A professora de educação física Thais Marques Isac, do Grupo Pão de Açúcar Clube (GPA), alerta também para a necessidade de identificar claramente os objetivos da pessoa e analisar o condicionamento físico para adequar metas. “Para quem nunca praticou atividade física e busca melhor qualidade de vida, é indicado começar com atividades aeróbicas e moderadas, como natação, caminhada, dança e ciclismo, de 2 a 3 vezes por semana, durante um período de 30 a 40 minutos. Além, é claro, do fortalecimento muscular e de exercícios para a flexibilidade”, recomenda. Porém, se a pessoa quiser alcançar objetivos mais ousados, como competir ou praticar uma atividade física com uma duração maior, e já tiver vida ativa, os períodos de treinamento podem ser mais longos e intensos. “Mas é fundamental lembrar que o idoso deve ter um período adequado de descanso, para que o seu corpo se recupere e esteja apto para a próxima sessão.” 

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