Assista ao trailer:

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Basta um encontro com Amanda Seyfried para entender o caso de amor da loira de olhos verdes com a câmera. Além da beleza luminosa, a atriz de 27 anos traz um certo mistério a ser desvendado, uma imagem de inocência com um quê de malícia. Essa qualidade fica ainda mais evidente em “Lovelace’’, drama em que ela interpreta a diva pornô Linda Lovelace, atriz que se tornou mundialmente conhecida pelo (hoje) clássico “Garganta Profunda’’, história da mulher que descobre o clitóris na garganta, dirigido por Gerard Damiano em 1972.

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O filme que leva o sobrenome artístico de sua biografada tem a estreia brasileira prevista para a sexta-feira 13. Vai levar ao cinema muitos dos fãs da estrela ascendente em Hollywood, que começou a carreira como modelo mirim e depois migrou para produções nitidamente voltadas ao público adolescente, como “A Garota da Capa Vermelha”, versão teen do clássico infantil “Chapeuzinho Vermelho.”Ou, antes, “Cartas para Julieta”, que arrancou suspiros de uma geração que conhece tanto de correspondência em papel quanto do movimento de liberação sexual e do feminismo, dentro do qual Linda Susan Boreman surgiu primeiro como símbolo erótico e depois como resistência à exploração sexual da imagem feminina. Assim, de uma certa forma, a jovem atriz encarna algo que precisa apresentar para um público que, como ela, nasceu depois da década seguinte do fenômeno “Garganta Profunda”.

Em tom quase de comédia, a história da mulher que só atinge o orgasmo com sexo oral foi o primeiro hit de sexo explícito de todos os tempos – atingindo bilheteria de mais de US$ 600 milhões ao redor do globo. O sucesso aprisionou sua protagonista, que anos depois se declararia vítima de violência e chantagem do marido.

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VIOLÊNCIA
Amanda e Peter Sarsgaard, na pele de Chuck Traynor, primeiro marido da
atriz e, segundo o filme, agressor da companheira com quem viveu de 1971 a 1974

Peter Sarsgaard faz o companheiro, Chuck Traynor. “Ao interpretar o Chuck, senti que todos me odiavam e isso me deixava irritado… Sentia simplesmente que as pessoas iam falar ‘O Chuck é um porco’.” Não gosto da ideia de que meus filhos vão crescer me vendo interpretar alguém assim. Não é só violência, é violência contra a mulher”, disse Sarsgaard ao jornal britânico “The Independent”.

Conhecida por interpretar meninas românticas e de família, Amanda mostra seu amadurecimento artístico nesse papel. Foi preciso muito mais que usar perucas de cabelo castanho e lentes de contato escuras para dar vida à Linda, protagonista de cenas extremas, em que o sexo muitas vezes não só era real como escondia graus de violência que a película quer denunciar. “Vendo o filme hoje, percebemos como ele era ingênuo e até bobinho. Se tornou um clássico pelo enredo inusitado e por chamar a atenção para o prazer da mulher’’, diz Amanda. 

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VIRADA
Linda Lovelace, na época da estreia de "Garganta Profunda", e cena do filme.
Depois da fama, ela aderiu ao movimento feminista, teve dois
filhos e se tornou voz contra a indústria de filmes pornôs

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“Não acredito que Linda se sentisse excitada com nada daquilo”
Apesar de ter ficado reticente num primeiro momento, a atriz conta, em entrevista, que o profissionalismo da equipe e o aval do seu pai lhe deram coragem para encarar Linda Lovelace

ISTOÉ – Por ser mais conhecida por papéis de meninas comportadas, como em “Mamma Mia!’’ (2008), “Querido John’’ (2010) e “Os Miseráveis’’ (2012), ficou reticente em aceitar o papel de musa pornô?
Amanda Seyfried – Confesso que não procurava necessariamente por um desafio desse calibre. Mas, assim que a situação se apresentou, percebi que não poderia ter medo de me entregar de corpo e alma ao papel, se topasse fazer o filme. Por retratar o mundo de uma estrela pornô, sabia que a exposição do meu corpo seria, até certo ponto, necessária.

ISTOÉ – Não se sentiu explorada no set?
Amanda –
Nunca. Confiei plenamente nos diretores (Rob Epstein e Jeffrey Friedman), pois sabia que eles não tinham interesse em fazer sensacionalismo sobre a história de Linda. Curiosamente, o que ela menos queria era ser uma atriz pornô. Ela só fez o filme porque foi obrigada pelo marido, o que nós mostramos no filme.

ISTOÉ – Mas não é irônico um filme sobre uma diva pornô sem muitas cenas de sexo?
Amanda –
É por isso que gosto tanto do filme. Claro que precisaríamos refazer as cenas de “Garganta Profunda’’, no qual Linda mostrou o talento que tinha (risos). Mas ficamos apenas na simulação. Jamais faríamos uma cena de sexo gratuitamente.

ISTOÉ – É verdade que pediu conselho ao seu pai?
Amanda –
Sim. Ele leu o roteiro e disse que via o trabalho como uma oportunidade incrível de dar voz a Linda, que foi, antes de mais nada, uma vítima de violência doméstica. Meu pai me apoia muito.

ISTOÉ – Assiste a filmes pornôs?
Amanda –
Não sinto necessidade. Mas vejo o gênero como uma forma de expressão como outra qualquer.

ISTOÉ – Ao ver “Garganta Profunda’’, hoje, consegue identificar no filme traços desse outro lado da história, o de que Linda não queria aquela vida?
Amanda –
Sim, em alguns momentos. Durante as cenas de sexo, por mais que ela quisesse ser realista, tenho a impressão de que ela se desligava de tudo e assumia um corpo mecânico. Não acredito que ela se sentisse excitada com nada daquilo.

ISTOÉ – O que “Lovelace” pode fazer por sua carreira? Sexo ainda é um tabu no cinema dos EUA, não?
Amanda –
Se a intenção do filme não fosse correta, a de contar a história de Linda, isso poderia acabar com a minha carreira nos EUA, onde eles insistem em encarar o sexo com tanto pudor. O mesmo não podemos falar das armas. Algo extremamente prejudicial e antinatural como violência pode. Já o sexo, algo que todos nós fazemos e não precisamos nos envergonhar disso, não pode.

Colaborou Mariana Brugger