Mate a saudade ou conheça alguns dos cantores em vídeo que traz performances de Cyro Monteiro, Nelson Gonçalves, Vicente Celestino e outros:

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O Cantor das Multidões. A Voz Orgulho do Brasil. O Caboclinho Querido. Nas décadas de 40 e 50, assim eram chamados Orlando Silva (1915-1978), Vicente Celestino (1894-1968) e Silvio Caldas (1908-1998), respectivamente. Rei da Voz era o codinome de Francisco Alves (1898-1952), que empresta agora o apelido ao novo livro do escritor alagoano Ronaldo Conde Aguiar. “Os Reis da Voz” (Casa da Palavra) reúne histórias da vida, da carreira e de canções eternizadas por artistas que fizeram a era de ouro da rádio brasileira.

O volume vem acompanhado de um disco com 14 faixas dos homenageados – o único que não entra no CD é Nelson Gonçalves (1919-1998), porque, de acordo com o pesquisador, a Sony Music, dona dos direitos de mais de 2.500 músicas dele, não liberou a gravação.

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GALÃS
Moreira da Silva (acima) e Cauby Peixoto, um dos
poucos cantores entrevistados pelo autor do livro

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Conhecido por arrastar legiões de fãs histéricas em seus shows, Cauby Peixoto é o autor de uma das frases mais significativas da publicação:
“Se eu não ganhasse dinheiro, pagaria para cantar.” Hoje, ele ratifica: “Cantar é a minha vida, é a única coisa que me traz satisfação.” Peixoto, dos 15 biografados, foi um dos pioneiros a contratar um empresário, Edson di Veras (1914-2005), e a investir em carreira internacional, uma verdadeira ousadia na época. Sobre o grande assédio das mulheres, que chegavam a rasgar sua roupa, ele disse à ISTOÉ: “Acho que isso acontecia porque eu era tido como galã.” O segredo para ser “Rei”, não é, segundo Cauby Peixoto, uma questão de aparência, mas sim de “ter uma voz bonita, bem colocada e saber cantar bem”.

Francisco Alves, por sua vez, não se pensava em ir tão longe. O livro conta que ele temia morrer em um acidente de avião como o amigo e cantor argentino Carlos Gardel (1890-1935) e, por isso, viajava sempre de carro. Alves foi o responsável por impulsionar a carreira de Orlando Silva, apesar de muitos afirmarem que ele fez isso apenas para desbancar seu principal concorrente da época, Silvio Caldas. Antes de ser ajudado por Alves, Silva foi reprovado em dois testes por causa de sua aparência maltrapida. Ele ficou por três dias nos corredores da Rádio Cajuti, no Rio de Janeiro, pedindo para algum produtor escutá-lo, sem sucesso. Em seu último teste, na Rádio Philips, foi novamente reprovado e resolveu desistir da carreira. Mas foi salvo pelo compositor Bororó (1898-1986), que ficou encantado com sua voz e pediu para Alves dar uma oportunidade ao rapaz. Sorte a nossa.

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RIVAIS
Jackson do Pandeiro (acima) e Orlando da Silva, que teria sido
lançado por Francisco Alves para desbancar Silvio Caldas

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Caldas vivia anunciando que iria deixar a carreira, e sempre voltando atrás, virando motivo de piada entre os jornalistas da época. Sobre Mário Reis (1907-1981), a fofoca era mais maldosa. Diziam que ele morreu virgem.

A verdade é que era muito bem educado, de boa família e nunca foi visto na companhia de uma mulher. De Nelson Gonçalves, o autor diz que, além de gago, ele gostava de contar vantagem. Quando jovem, aprendeu a lutar boxe e, apesar de nunca ter participado de nenhuma luta, se vangloriava por ganhar disputas por nocaute. Gonçalves é, inclusive, o protagonista de uma das histórias mais tristes do livro. Viciado em cocaína, chegou a cantar em troca de drogas.

Apesar de tantos detalhes pessoais, Aguiar não teme problemas com a família dos artistas perfilados. “Não julgo ou escrevo para ofender a imagem de ninguém”, diz. Ao contar a história de Orlando Silva, outro que sofreu com o vício em morfina, foi cuidadoso ao explicar que a dependência começou após um acidente que sofreu aos 16 anos. “É muito triste assistir às últimas apresentações dele. Orlando virou um farrapo e perdeu a voz”, lamenta. Aguiar pesquisou em revistas da época e entrevistou apenas três cantores: Cauby Peixoto, Tito Madi e Jorge Goulart (1926-2012). Para quem não conheceu a era do rádio, as gravações funcionam como atestado do talento que fez o Brasil cantar em seus tempos dourados.

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