Assista ao trailer de "Jobs":

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Ashton Kutcher, 35 anos, ganhou projeção com o casamento de seis anos com a atriz Demi Moore e com os papéis de bonitões sem cérebro no cinema e na tevê. Em 2011, o ator foi escolhido para substituir Charlie Sheen na série “Two and a Half Men’’, pela qual embolsa cerca de US$ 800 mil por episódio, para viver o bilionário infantil que comprou a casa do falecido Charlie. “Ser subestimado como ator não é tão ruim, desde que você aprenda a usar isso a seu favor’’, diz. Talvez Hollywood mude a percepção sobre Kutcher, passando a vê-lo como um ator mais sério depois de “Jobs’’, filme de baixo orçamento (US$ 12 milhões), que estreia na sexta-feira 6. Na entrevista à ISTOÉ, o único assunto proibido foi a vida pessoal. “Deixo que as pessoas preencham as lacunas como quiserem’’, resumiu Kutcher.

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PROFISSÃO
Ele começou a faculdade de bioquímica, mas não terminou.

"Não me limito à carreira de ator", diz 

ISTOÉ – A exemplo de Jobs, você também foi obcecado por tecnologia e eletrônica na infância e na adolescência?
Ashton Kutcher –
Sim. Quando era criança, gostava de matemática e ciências. Era muito curioso e queria saber como tudo funcionava. A curiosidade sempre foi a minha religião. Frequentei a faculdade de engenharia bioquímica, mas não cheguei a terminar. A vontade de descobrir coisas me acompanha até hoje. Talvez isso explique o fato de eu não ter me limitado à carreira de ator. Eu provavelmente passo pelo menos 30 horas por semana trabalhando em outras coisas, como produtor ou empresário.

ISTOÉ – Qual foi a sua primeira aventura como empresário?
Kutcher –
Em 2000, abri uma produtora de conteúdo para televisão e cinema, a Katalyst, aproveitando que eu tinha um quarto extra em casa. Convidei um amigo, com a mesma ambição que eu para ser sócio. Avisei que trabalharíamos de graça até começar a entrar dinheiro. Só muito mais tarde contratamos um funcionário e a produtora começou a crescer (a Katalyst chegou a ser considerada por revistas especializadas uma das empresas mais inovadoras na sua área). Foi minha primeira experiência gerando um negócio.

ISTOÉ – O que procura quando investe em empresas de tecnologia como Spotify, Airbnb, Foursquare?
Kutcher –
Como investidor, procuro me associar a empresas apaixonadas pelos problemas que resolvem e por empreendedores jovens e inovadores, mesmo que eles ainda estejam trabalhando em garagem, como Jobs começou. Para vencer, é preciso ter determinação, foco e visão, além de coragem para correr riscos. Hoje, ter diploma universitário não quer dizer nada. A maioria dos jovens que sai da faculdade não encontra lugar no mercado de trabalho.

ISTOÉ – Talvez por isso a trajetória de Jobs, que nunca se formou na universidade, seja tão inspiradora?
Kutcher –
Sim. Muitas pessoas passam a vida inteira esperando que o mundo lhes dê algo. Mas não é assim. O filme mostra como dois caras (Jobs e o amigo Steve Wozniak) tiveram uma ideia que levou à empresa mais poderosa do mundo. Muitos usam todo tipo de desculpas para não construir ou criar algo. Acham que precisam de capital, disso ou daquilo, quando só é preciso querer fazer.

“Adoro o Rio e São Paulo. O brasileiro tem espírito livre e vontade
de viver, o que dá ao País uma aura de energia e novidade”

ISTOÉ – Como Jobs, você também parece ter o dom de palestrante motivacional.
Kutcher –
(Risos) Eu participo de muitas conferências de tecnologia, falando sobre produtos, design e internet. Também costumo falar em público sobre causas que defendo, como eliminar a exploração sexual de crianças e a pornografia infantil. Quando sei o que quero dizer e tenho conhecimento do assunto, consigo me apresentar decentemente.

ISTOÉ – Acredita que o filme mudará a imagem que a indústria do entretenimento tem de você, escalando-o quase sempre para os papéis de piadistas e imaturos?
Kutcher –
Não sei e não me importo. Se depender de Hollywood e da tevê, devo continuar com os mesmos papéis. A indústria do entretenimento é muito previsível, por seguir um modelo de negócios que só pensa em repetir sucesso. Se um dia pararem de me chamar para atuar, certamente farei outra coisa da vida. Eu posso perfeitamente criar as minhas oportunidades.

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ISTOÉ – Já se sentiu menosprezado como ator, por conta dos papéis de trapalhões sedutores que faz?
Kutcher –
Já. Não sou surdo (risos). Já ouvi muita crítica, de quem me achava incapaz de fazer isso ou aquilo. Alguns não acreditaram que eu poderia interpretar Jobs nas telas. Isso dói, claro. Mas só se você levar para o lado pessoal. Sempre tentei usar a crítica para me motivar. Trabalho o dobro quando alguém me diz que eu não vou conseguir.

ISTOÉ – Qual foi o melhor conselho que já recebeu?
Kutcher –
Até hoje não sei se é aplicável a tudo na vida, mas meu pai sempre dizia: “Faça certo da primeira vez ou não faça’’. E isso está enraizado em mim como ética de trabalho.

ISTOÉ – Você já reservou um assento (de US$ 200 mil) na nave Space Ship Two para viajar ao espaço no ano que vem. O que espera ver?
Kutcher –
Ainda não sei o que esperar. Só posso dizer que procuro usar o meu dinheiro para comprar experiências. Isso é a coisa mais valiosa do mundo, pois experiência nós guardamos para sempre. Topei participar pensando mais na nova perspectiva do mundo que eu terei, após realizar a viagem.

“Alguns não acreditaram que eu poderia interpretar
Steve Jobs nas telas. Isso dói, claro”

ISTOÉ – Você frequenta centros de cabala há mais de dez anos. O que busca na filosofia?
Kutcher –
Gosto de me conectar com a essência das coisas. Adoro natureza, acampar e pescar. Também gosto de estar em relacionamentos sérios (­atualmente, ele namora a atriz Mila Kunis). Por mais que eu seja louco por tecnologia, todo ano eu tiro uma semana para me desconectar de tudo. Fico sem celular, computador ou iPod, tentando viver apenas o momento. A cabala me ajuda nesse sentido, a buscar respostas. Até porque, quanto mais descubro coisas, mais percebo que não sei nada.

ISTOÉ – No ano passado você postou uma foto no Twitter brincando de surfar numa rua alagada em São Paulo. Gosta da cidade?
Kutcher –
Adoro São Paulo. O povo é extraordinário – isso também se aplica às outras cidades brasileiras que conheço, como Rio de Janeiro e Angra dos Reis. Tenho vários amigos por lá, pessoas com quem me divirto muito. O brasileiro tem um espírito livre e uma grande vontade de viver, o que dá ao País uma aura de energia e novidade.