Fotos: Nasa

TURBULÊNCIA Imagens obtidas
da atmosfera solar mostraram aos cientistas que o campo magnético do Sol tem fortes erupções a cada segundo

Quando olhamos para o céu temos a impressão de que as estrelas são eternas. Apesar da exuberância e da grandiosidade que possuem, elas são, no entanto, tão frágeis quanto o menor dos microrganismos terrestres. Não, não são somente os poetas que cantam, são os astrônomos que cientificamente constatam: as estrelas nascem, vivem e morrem. Assim, todos os dias bilhões de astros se desenvolvem nos confins do universo, bilhões deles desaparecem, mas nenhum é tão observado quanto aquele que rege toda e qualquer forma de vida na Via Láctea – ou seja, rege também a nossa e sem ele morremos. Trata-se do Sol. Na semana passada, imagens capturadas pela sonda Hinode e pelo telescópio Hubble, da Agência Espacial Americana (Nasa), deixaram os cientistas atônitos. Motivo: a atmosfera solar é ainda mais turbulenta do que se imaginava. São explosões gigantescas de puro fogo que criam ventos solares, causando danos na comunicação via satélite com a Terra. Mais: a cada segundo, o Sol emana parte do seu calor e com isso chega cada vez mais próximo do seu resfriamento. Grave: aproxima-se do seu fim. Com as novas pesquisas, os cientistas já sentenciaram: o futuro será sombrio. O astro rei morrerá.

O diretor de heliofísica da Nasa, Dick Fischer, comandou recentemente o lançamento da sonda Hinode (“nascer do sol” em japonês) para vigiar de perto todas as reações dessa estrela de fogo. Com lentes de alta potência que se valem de infravermelho, a Hinode foi capaz de trazer imagens incríveis. “Elas abrem uma nova era de estudos dos processos solares que afetam a Terra e todo o Sistema Solar. O Sol está em fúria”, disse Fischer. O que ele e sua equipe observaram foram imagens que revelam o campo magnético com explosões de fogo que têm a potência da bomba atômica que arrasou Hiroshima. Tal comportamento revela que o calor do núcleo do Sol está sendo emanado, o que caracteriza o fim de uma estrela. A preocupação aumentou com a observação de outro material, dessa vez através do telescópio Hubble. As suas lentes mostraram para os astrofísicos o que eles jamais imaginariam presenciar: a morte de uma estrela semelhante ao Sol. O Hubble fotografou a imagem da nebulosa NGC 2440 morrendo, uma agonia cósmica composta por uma explosão multicolorida. A estrela, que está a uma distância de cerca de quatro mil anos-luz da Terra, espalhou camadas de gás que se tornam brilhantes diante de sua luz ultravioleta. “Pela primeira vez temos a idéia de como será o fim do Sol. Ele morrerá dentro de cinco bilhões de anos e, na contagem de tempo no campo da astrofísica, isso significa que o Sol já começou a agonizar”, diz Fischer.

Fotos: Nasa

EXPLOSÃO O telescópio Hubble fotografou o fim de uma
estrela semelhante ao Sol. A nebulosa NGC 2440 explodiu
com a força de bilhões de bombas atômicas

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A astronomia consegue acompanhar há tempos as transformações das estrelas. Sabe-se, por exemplo, que, quando olhamos para o céu, uma parte das estrelas que vemos já morreu há muito tempo. “A distância entre elas e nós é tão grande que, quando a luz que emitiram chega até aqui, elas mesmas já não existem mais”, disse a ISTOE o astrônomo Walter Junqueira Maciel, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Ele e sua equipe estudam as transformações químicas das galáxias. Maciel considera que as imagens que mostram a turbulência da atmosfera do Sol podem ser explicadas com um exemplo prosaico, bem conhecido de uma dona-de-casa. “Considere uma panela com água fervendo. As gotas de água mais quentes que estão no fundo ficam mais leves e sobem, enquanto as mais frias que estão na superfície têm de descer, pois não podem ocupar o mesmo espaço. Com isso gera-se um movimento turbulento”, diz ele. No Sol, a temperatura média da superfície é de seis mil graus Celsius – é mais que óbvio, então, que esses movimentos são muito mais intensos do que em uma simples panela.

A nebulosa planetária NGC 2440 mostrou na prática o que a equipe de Junqueira já estudava na teoria. As estrelas “nascem”, ou seja, formam-se quando uma enorme nuvem de gás começa a se concentrar, ficando cada vez menor e mais quente. As partes mais externas da nuvem começam, então, a cair para o centro. Esse “nascimento” pode levar um milhão de anos. Depois disso, a parte interna da nuvem fica tão quente que se transforma num enorme reator nuclear, ou seja, uma verdadeira fábrica de luz – a nuvem original era composta principalmente de hidrogênio, um gás muito comum no Universo e que representa o principal combustível do reator que existe dentro da estrela. Ele produz a energia que faz brilhar o Sol e os milhares de estrelas que vemos no céu. A morte do Sol, já iniciada, será concluída quando terminar o seu combustível, ou seja, quando houver a queima total do hidrogênio que existe em seu núcleo. A explosão acontecerá quando, já inchado, ele expulsar de seu núcleo toda a energia armazenada durante bilhões de anos. Foi o que aconteceu com a NGC 2440. Sorte nossa que não era essa nebulosa o nosso astro rei. Se fosse, nós não estaríamos mais aqui para contar essa história, nem o leitor estaria mais aqui para lê-la. A Terra teria acabado.


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