As derrotas nas eleições presidenciais de 2002 e 2010 e na disputa pela Prefeitura de São Paulo no ano passado não reduziram o insaciável apetite político de José Serra. Os movimentos feitos por ele nas últimas semanas mostram que o ex-governador tucano não engole a possibilidade de o PSDB ter um candidato à Presidência da República que não seja ele mesmo. Para realizar seu desejo, Serra não se constrange em liderar uma espécie de guerrilha entre tucanos, conspira contra a própria legenda e parece não se importar caso sua teimosia leve a uma implosão do PSDB.

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INSACIÁVEL
Para ser candidato a presidente, Serra abre guerra contra o próprio
partido, como fez para favorecer Kassab (abaixo) em 2008

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Sem o apoio dos principais líderes do partido, visto com antipatia pelos militantes e ainda forçado a permanecer na legenda pelos poucos correligionários que o cercam, o ex-governador paulista tenta agora boicotar a estratégia que o partido, sob a liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, traçou para a candidatura do senador mineiro Aécio Neves. Um projeto tucano que estava em pauta desde 2010, mas que na ocasião foi contido exatamente para atender à ambição do ex-governador e evitar um racha. Há duas semanas, Serra começou a fazer contatos com diversos deputados e vereadores do partido em São Paulo, onde ainda mantém alguma influência. Iniciou as conversas deixando claro que poderia abandonar o PSDB e disputar a Presidência da República pelo PPS – uma hipótese que aterroriza os tucanos de São Paulo, pois visualizam nela a possibilidade de divisão do partido no Estado, com consequências diretas na sucessão estadual. Em seguida, Serra sugeriu a alguns parlamentares que não participassem das reuniões agendadas por Aécio no interior do Estado. Desde maio, quando assumiu a presidência nacional do PSDB, Aécio vem trabalhando uma agenda que contempla uma série de viagens pelo País, com o propósito de unificar o partido e buscar a construção de palanques regionais para a sua candidatura. “Vamos discutir com Aécio a ativação das redes sociais e um calendário de encontros regionais. Isso está previsto no planejamento estratégico do PSDB”, teria respondido o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Samuel Moreira.

A conspiração de Serra aparentemente não deu resultado. Aécio passou parte da semana passada em São Paulo mantendo diversos contatos políticos. Na noite da sexta-feira 23, por exemplo, o mineiro se reuniu com lideranças políticas de Ribeirão Preto e tinha confirmada a participação na Festa do Peão de Barretos, o maior rodeio do Brasil, no sábado 24. “O candidato do PSDB é o senador Aécio Neves (MG). Isso já está definido. Serra teve todas as chances possíveis e a fila andou. Agora ele precisa deixar de fazer espuma, pois o nosso problema é ganhar a opinião pública, o que não está fácil”, diz o deputado pernambucano Sérgio Guerra, ex-presidente nacional do partido e presidente do Instituto Teotônio Vilela. “Estamos trabalhando muito para desenhar uma proposta ao País e não podemos perder tempo com essas rusgas”, completou.

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FAVORITO
Aécio tem apoio da maioria do partido e concorda em disputar prévia no PSDB 

Além de procurar líderes para conspirar contra a candidatura de Aécio, o ex-governador paulista procura tumultuar o ninho tucano acenando com a possibilidade de prévias para a escolha do candidato. Trata-se de uma fórmula que não faz parte do DNA tucano, que desde sua fundação tem as candidaturas lançadas pela cúpula, e que o próprio Serra defenestrou, em 2010, quando tinha ao seu lado a maioria dos líderes nacionais do partido. Hoje, segundo estimativas feitas pelo Diretório Nacional, Aécio tem cerca de 98% das preferências. Diante do desafio, Aécio declarou que não vê razão alguma para evitar a disputa prévia, desde que o vencido tenha o compromisso de apoiar para valer o vencedor. Serra, então, mais uma vez optou pela guerrilha e tenta impor condições para eventuais prévias. Nos bastidores, tem dito a alguns deputados que entre as condições estaria a renúncia de Aécio à presidência do partido. Na verdade, o gesto de Serra busca apenas criar obstáculos para Aécio. Ele sabe muito bem que o PSDB não tem um cadastro atualizado de seus filiados, que podem chegar a um milhão, e que se as prévias forem feitas apenas com os delegados a vitória de Aécio será esmagadora. “Serra tem consciência de que não haverá prévia. Ele está apenas buscando uma desculpa mais nobre para deixar o partido”, disse um deputado federal paulista que já esteve muito ligado ao ex-governador.

No Diretório Nacional, segundo líderes ouvidos na manhã da sexta-feira 23, a prévia está descartada. Segundo eles, ainda que seja realizada a consulta, não há garantia de que Serra permanecerá no partido e apoiará Aécio caso seja derrotado. Em 2008, por exemplo, Serra não fez nenhum empenho a favor do tucano Geraldo Alckmin, que disputava a Prefeitura de São Paulo e perdeu para Gilberto Kassab – esse, sim, com o apoio escondido de Serra. Conhecedor da personalidade do ex-governador, Fernando Henrique Cardoso entrou em campo. Na sexta-feira 23 encontrou-se com Aécio e nesta semana irá reunir-se com Serra. “Aécio tem o apoio da ampla maioria do partido, mas não podemos mais impor uma escolha vertical”, disse FHC a um aliado de Aécio. “O desafio é fazer Serra cumprir o compromisso caso seja derrotado.”