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EXCLUÍDOS
Acusado de tráfico, padre Roosevelt foi inocentado pela Justiça, mas sua excomunhão foi mantida.

Houve um tempo em que excomunhão era sinônimo de morte. Na Idade Média, por exemplo, excomungados eram banidos do convívio social e até executados. Hoje, falar em expulsões da Igreja Católica pode soar anacrônico, mas elas ainda acontecem – embora a amplitude de seu impacto na vida dos expurgados pela Santa Madre tenha se reduzido. Há, no entanto, um grupo que ainda sofre uma exclusão praticamente nos moldes medievais: os padres católicos. Sem poder celebrar, proibidos de comungar e participar da vida da Igreja, a maioria dos sacerdotes vive um verdadeiro banimento social. E, quando há escândalo no processo de exclusão, a situação se agrava ainda mais.

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Padre Nildemar entrou para a Igreja Anglicana

Foi assim com o padre Roosevelt de Sá Medeiros, 68 anos, excomungado em 2003 por suposto envolvimento com o narcotráfico na cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul. Em fevereiro de 2002, um rapaz portando cocaína e maconha foi preso pela polícia dentro do quarto do religioso, que foi indiciado por associação com o tráfico e passou 15 dias preso. Não tardou, diante de tamanho escândalo, para o então bispo da diocese de Jardim, dom Bruno Pedron, pedir à Roma a excomunhão do padre. “Dei minha vida à Igreja e, no fim, tomei um chute”, afirma Medeiros. Embora magoado com o que aconteceu, padre Roosevelt não se deixou amargurar. Inocentado em 2003 da acusação de tráfico pela Justiça, ele se mudou para Campo Grande, entrou para a Igreja Católica Apostólica Brasileira (Icab), foi eleito bispo e hoje tem rotina de religioso. “Se tivesse vindo para a Icab mais moço, também me casaria, mas acabei ficando sozinho”, diz.

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Excomungado em 9 de abril de 2013, aos 47 anos, padre Roberto Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, da diocese de Bauru, interior de São Paulo, não pensa em refazer a vida fora da Igreja. Ele luta, na Justiça, para reverter a sanção eclesiástica a que foi submetido. Segundo Beto, o tribunal o julgou em processo relâmpago e não lhe deu a chance de justificar o discurso progressista que vinha adotando em homilias, quando defendia o casamento gay, o uso de métodos anticoncepcionais e o sexo antes do casamento. “Meu lugar é na Igreja, quero continuar padre”, diz o religioso, que acaba de lançar “Verdades Proibidas” (Ed. Alto Astral). Enquanto não volta ao altar, ele dá aulas em três universidades, tem programa de rádio, é cronista de um jornal da cidade e vive sendo visto bebendo chope em bares da região. “Muito do que eu dizia e chocava agora é dito pelo papa Francisco”, afirma.

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Não há estatísticas de quantos padres excomungados existem atualmente, pois o processo pode correr nas dioceses sem chegar ao Vaticano ou às conferências episcopais. O processo de Nildemar Andrade Santos, 52 anos, tramitou na diocese de Ilhéus, na Bahia. Sacerdote durante 28 anos, ele foi expulso em fevereiro de 2012 porque havia se vinculado à igreja anglicana. O caso, embora barulhento, logo arrefeceu, pois não houve insistência por parte de Santos de continuar no catolicismo. “Mas qualquer excomungado pode voltar atrás”, diz Edson Luiz Sampel, doutor em direito canônico e professor da Escola Dominicana de Teologia. “Embora a excomunhão seja decretada sempre por tempo indeterminado, a ideia é que, tão logo o excomungado se arrependa, volte para a igreja.”

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Fontes: Enciclopédia Católica, Encyclopedia Britannica
Fonte: Código de Direito Canônico, Vaticano


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