Talvez a obra contemporânea que mais se aproxime da exuberância orgânica e simbólica de “O Jardim das Delícias Terrenas” (cerca de 1510), de Hieronymus Bosch, seja a instalação “Tempo para Respirar” (2012) (foto), de Maria Nepomuceno, atualmente em cartaz no MAM Rio. Não que a instalação tenha qualquer intenção de descrever a história do mundo segundo a tríade vida, paraíso e inferno. Longe disso. Como o palco idílico da fantasia de Bosch, a obra de Maria sugere não apenas uma natureza, mas uma imaginação extremamente fértil. No entanto, diferentemente do tríptico medieval, não há aqui nenhuma vontade de definir a temporalidade da vida terrestre, nem de discernir entre vida e morte; virtude e luxúria; bem e mal. A instalação de Maria é um lugar onde diversas formas se encontram, formando um só magma criativo. Além disso, a obra sugere uma espécie de suspensão do tempo e do espaço.

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Pode-se perder uma tarde visitando os detalhes e as sutilezas dessa obra feita com esculturas tecidas com contas de colar, cordas, palha, barro, fibra de vidro, resina e madeira. Essas matérias – naturais e artificiais –, somadas e tecidas umas às outras, formam um imenso trabalho que remete a um ambiente (sobre)natural ou a um organismo vivo.

Concebida em 2012 para exposição na galeria pública Turner Contemporary, na Inglaterra, a obra foi adquirida pelo MAM Rio em 2012, com recursos do Prêmio Marcantonio Vilaça/Funarte, para aquisição de obras de arte. O prêmio permitiu a aquisição de obras de Carlos Vergara, Emil Forman, Cao Guimarães e Maria Nepomuceno. Nessa versão de “Tempo para Respirar”, Maria incluiu a presença delicada de uma trilha sonora, agregando a audição à festa dos sentidos que é promovida por sua obra.


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