Só quem mora na região Norte sabe o que significa o inferno de apagões, intermitência de energia e quedas de luz que danificam eletrodomésticos e aparelhos de ar-condicionado. Serviços imprescindíveis, hospitais e repartições públicas são obrigados a recorrer a geradores. O combustível vem de longe, de barco. Com vasta extensão territorial e baixa densidade demográfica, os Estados da região Norte respondem por 6% do consumo de eletricidade do País, e 25% desse mercado é atendido por 27 termelétricas a diesel e a gás que emitem toneladas de gás carbônico na atmosfera.

Felizmente, em 9 de julho, depois de cinco anos de obra (e três de atraso), entrou em funcionamento parcial o linhão de 1,8 mil quilômetros de extensão que vai da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, até Macapá, no Amapá, e alcança Manaus, no Amazonas. Graças a ele, R$ 2 bilhões serão economizados por ano quando as termelétricas forem sendo desligadas, assim que a empresa Manaus Transmissora concluir (até dezembro?) as subestações e as linhas projetadas. Manaus respondia por 60% do consumo de energia dos “sistemas isolados” (desconectados da rede nacional), cujo custo de geração era subsidiado pela conta de consumo de combustível embutida na conta de luz de todos os brasileiros.

Cerca de 3,3 mil torres de aço foram instaladas na floresta para estender o linhão, algumas transportadas por helicóptero e barcaças. Para atravessar os 2,5 quilômetros de largura do rio Amazonas, em Jarupari, perto de Almerim, no Pará, foram construídas duas torres de 300 metros em cada margem – um pouco menos do que os 324 metros da Torre Eiffel, em Paris.

Há várias linhas do Sistema Integrado Nacional (SIN) com construção atrasada e usinas eólicas e hidrelétricas prontas sem gerar energia porque não existe rede para transportá-la. Mas, apesar de todos os pesares, a linha Tucuruí-Manaus merece ser celebrada. A expansão do sistema muda a realidade da região Norte. Os sistemas isolados do Acre e de Rondônia já foram conectados à rede, em 2009, com a entrada em operação da hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira.

O progresso anda devagar, mas anda. Em julho, fracassou o leilão do Ministério de Minas e Energia para a construção da linha Rio Branco-Cruzeiro do Sul, de 657 quilômetros de extensão, que ligaria o extremo oeste do Acre com o resto do País. Apesar de sete empresas estarem credenciadas, nenhuma se apresentou para a obra, de olho em preços mínimos mais baixos e margens de lucro mais altas Em decorrência, as cidades no vale dos rios Juruá, Taraucá e Purus continuarão com luz intermitente.

Nos 111 mil quilômetros da rede elétrica brasileira (a terceira maior do mundo) há muitas perdas de energia. Mas o sistema permite transferir energia renovável, gerada em diversas bacias, para centros consumidores distantes, aproveitando as diferenças de sazonalidade dos regimes pluviais do País. Um dia, quando o sistema for completado, interligando o único trecho que falta, entre Porto Velho e Manaus, será possível operar em circuito fechado. Até lá, a evolução tecnológica dos materiais condutores melhorará os níveis de eficiência da rede.

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Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta


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