A busca por evidências de que histórias relatadas na “Bíblia” realmente aconteceram fascina pesquisadores sérios. Um deles é a arqueóloga Eilat Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Começou a ganhar fama entre seus colegas em 2005, quando revelou as ruínas de um palácio, construído entre os séculos X e IX a.C., que ela acredita ter pertencido ao rei Davi. Agora, a arqueóloga apresenta outro achado: um fragmento de vaso de cerâmica com a inscrição linear mais antiga já achada em Jerusalém.

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Davi
De acordo com a “Bíblia”, o rei governou Israel durante 40 anos, aproximadamente
entre 1010 e 970 a.C., uniu o povo de Israel e venceu muitas batalhas.
É conhecido pela narrativa segundo a qual derrotou o gigante Golias,
feito celebrado em várias pinturas, como esta, de Caravaggio

Alguns pesquisadores veem o artefato como mais uma peça no quebra-cabeça que pode comprovar a existência dos reis Davi e Salomão. A inscrição foi encontrada próxima ao palácio onde eles podem ter reinado. “O fragmento, o palácio e outras evidências apontam mesmo na direção da historicidade desses personagens”, diz Gary Rendsburg, professor do departamento de estudos judaicos da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos.

Os estudiosos levantam hipóteses, mas ainda não definiram a tradução e o idioma usado na inscrição. Para uns, é proto-cananita, uma forma de escrita que precede o domínio israelita em Jerusalém. Outros defendem que se trata de uma forma arcaica de hebraico ou fenício. Enquanto não chegam a essa definição, alguns estudiosos acenam com outras possibilidades decorrentes da descoberta. “Se as pessoas sabiam ler e escrever naquela época e local, isso indica que a ‘Bíblia’ pode conter relatos autênticos, e não apenas lendas escritas 700 anos mais tarde”, diz Yossi Garfinkel, professor de arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém.

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Essa ideia pode animar quem defende o texto religioso como registro histórico, mas deve ser encarada com cuidado. A arqueologia feita para provar que “a ‘Bíblia’ tinha razão” é traiçoeira. “A única coisa que a descoberta prova sem dúvida é que, em torno do ano 1000 a.C., na região que hoje chamamos de Israel, alguém sabia ler e escrever”, diz Cássio Murilo Dias da Silva, professor de história e literatura do Antigo Testamento na Faculdade de Teologia da PUC-RS. O que não significa que as letras impressas no barro sejam um retrato fiel da verdade.

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Fotos: Ouria Tadmor; Universal History Archive/Glow Images; Alinari Archives/Corbis