Nos últimos dias, o brasileiro naturalizado francês Eduardo Rihan Cypel tem vivido momentos de tensão. Deputado eleito em 2012 pelo Partido Socialista, Cypel recebeu por e-mail algumas mensagens assustadoras. Em uma delas, o remetente enviou imagens da suástica nazista. Em outra, um sujeito o mandou “voltar para a sua favela no Brasil”. Os ataques racistas são resultado de uma campanha degradante iniciada pelo deputado Bruno Gollnish, líder da legenda de extrema direita Frente Nacional, que defende políticas xenófobas. Gollnish começou a perseguição em um vídeo publicado na internet, em que classificava Cypel como “um novo francês”, que o faz pensar “em pessoas que, uma vez convidadas para a sua casa, sentem-se no direito de convidar todo mundo”. O ataque provocou grande discussão na França. “Nunca havia enfrentado um preconceito como esse”, disse Cypel à ISTOÉ. Nascido em Porto Alegre, Cypel trocou o Rio Grande do Sul por Paris aos 10 anos, para acompanhar os pais que foram trabalhar no Exterior. Embora naturalizado francês, os conservadores não o enxergam como um europeu legítimo. “Foi um ataque premeditado, porque sempre me coloquei na linha de frente contra a direita intolerante”, diz Cypel. Gollnish é representante do partido do empresário Jean-Marie e de sua filha, Marine Le Pen, que já chegou a obter 20% dos votos. Hoje, a legenda faz forte oposição ao governo socialista de François Hollande e defende a expulsão em massa de estrangeiros.

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PERFIL
Formado em Filosofia, Cypel entrou para a política em 2002
depois da derrota dos socialistas na eleição presidencial

Em resposta às ofensas, o deputado franco-brasileiro escreveu um texto na rede social Twitter em que declarou que sua missão é proteger a França contra pessoas como Gollnish. Foi depois disso que as mensagens amea-çadoras se intensificaram. O Partido Socialista saiu em defesa de Cypel. “A Frente Nacional é um partido profundamente antirrepublicano que quer realizar uma triagem inaceitável entre os franceses em razão de sua origem”, afirmou Harlem Désir, primeiro-secretário da legenda. Cypel passou a ganhar destaque no cenário político francês em 2012, quando participou da campanha de Hollande como encarregado de questões de imigração. Hoje, com 37 anos, é um dos destaques da Assembleia Nacional da França por ter atuado em projetos emblemáticos do governo, como a legalização do casamento homossexual.

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Um estudo recente realizado pela Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA) revelou que o racismo e a xenofobia estão mais presentes na Europa do que os registros oficiais apontam. “Pessoas que sofrem ataques de xenofobia tendem a não denunciar os atos de violência”, diz Ariane Chebel D’Appollonia, pesquisadora do Centro de Pesquisas Políticas Sciences Po da França. Um dos motivos é óbvio: os imigrantes temem sofrer represálias. Outro entrave é que a maior parcela da população que é alvo de preconceito tem recursos limitados. “São minorias que não têm conhecimento sobre seus direitos, não possuem recursos financeiros e não conseguem aproveitar as oportunidades proporcionadas pela União Europeia”, diz D’Appollonia. De acordo com a Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia, para combater esse tipo de crime é preciso responsabilizar os autores. “As autoridades políticas devem criar mecanismos para encorajar as vítimas a denunciar os atos”, pontua Friso Roscam Abbing, chefe de comunicação da FRA. “A história nos ensinou que os países abertos podem atrair talentos e que a migração tem de ser vista como uma oportunidade, não como ameaça.” Cypel quer provar agora que, embora os ataques a franceses de origem estrangeira sejam recorrentes entre os apoiadores da Frente Nacional, trata-se de uma visão que não corresponde à França moderna. “É um país tolerante que permite a qualquer pessoa se tornar francês, desde que respeite as regras da república”, diz ele.

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Fotos: Mathieu Delmestre/Parti Socialiste; UPPA/ZUMApress.com; Khanh Renaud/Visual/ZUMAPRESS.com; Philippe Grangeaud/Parti Socialiste


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