Com patrimônio estimado em US$ 25,2 bilhões, o equivalente a R$ 57,3 bilhões, são poucas as coisas que o americano Jeff Bezos, 49 anos, dono da Amazon.com, não pode comprar. Sua última grande aquisição, porém, surpreendeu até quem conhece o ecletismo dos investimentos do magnata do varejo online. Foi com pompa que o bilionário anunciou, na segunda-feira 5, a compra do lendário jornal americano “The Washington Post”, famoso, entre outras coisas, por ter revelado, em 1972, o escândalo Watergate, que terminou por forçar a renúncia do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon. Por US$ 250 milhões, Bezos assumiu um periódico que registrou perdas de US$ 49 milhões só em 2013, tem metade dos assinantes que tinha em 1993 e, embora ainda produza ótimo jornalismo, caminha sem rumo. “Os valores do ‘The Washington Post’ não mudam”, assegurou Bezos, em comunicado emitido na própria segunda-feira. “E estou muito otimista com o futuro.”

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PACIENTE
Para que uma nova iniciativa dê resultados, ele espera pelo menos cinco anos

Para entender o otimismo aparentemente desmedido de Bezos diante da complicada situação do “The Washington Post” e, mais genericamente, da indústria do jornalismo, vale retomar a trajetória do bilionário e de seus investimentos. Não é de hoje que ele é tido como um dos poucos magnatas do Vale do Silício com visão de longo prazo, seja nos negócios que fundou, seja nas empresas das quais é sócio. A lógica é que, se a ideia é boa o suficiente para Bezos, ele está disposto a investir e a esperar. Na sua Amazon, por exemplo, hoje avaliada em US$ 140 bilhões, ele já se acostumou a dar um prazo de cinco e sete anos para que novos projetos rendam dividendos. Com a mesma paciência, espera resultados da cara e lenta indústria de turismo espacial, da qual ele faz parte com sua “Blue Origin”, fundada em 2000. Na última década, estima-se que ele tenha despejado ao menos US$ 175 milhões na empresa, mesmo tendo perdido, em 2011, um dos protótipos da nave que levará seus clientes ao espaço.

Comportamento parecido pode ser observado em quase todas as outras 29 empresas do bilionário, entidades filantrópicas e organizações sem fins lucrativos das quais ele é investidor. E não será diferente no caso do “The Washinton Post”. Bezos acredita no jornalismo, embora tenha dito, em mais de uma ocasião, que o papel, seu suporte mais popular, esteja com os dias contados. “Sempre que algo grande é feito de maneira ineficiente, surge uma oportunidade”, disse Bezos, em 2010. Com paciência e bolsos fundos, ele está em posição privilegiada para aproveitar essa oportunidade.

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