Durante muito tempo, os brasileiros que viajam ao Exterior ou compram produtos importados se acostumaram a fechar negócio com o dólar cotado em torno de R$ 2. Em 2013, essa realidade sofreu uma reviravolta. De janeiro a julho, o dólar disparou 12,5% – a inflação no período foi de 3,18% – e os efeitos dessa alta já são sentidos no preço das passagens aéreas, dos pacotes turísticos e de produtos eletrônicos. Em levantamento realizado a pedido da ISTOÉ pelo site Mundi, de comparação de preços de passagens aéreas, a tarifa média do trecho São Paulo – Miami (Estados Unidos) saltou de R$ 3.626,38, em 5 de maio, para R$ 4.375,46 em 1º de agosto, quando os brasileiros já começam a planejar as viagens de fim de ano. Qual será o resultado disso? De acordo com o presidente da Federação Nacional de Turismo, Michel Tuma Ness, a manutenção do dólar acima de R$ 2,20 vai resultar em uma queda de 40% na venda de passagens internacionais e de pacotes para o Exterior nos próximos dois meses. Parte dos consumidores que tinham feito reservas para viagens internacionais no fim do ano tem cancelado os pacotes. “Quem viajava com R$ 4 mil agora terá que desembolsar R$ 6 mil”, calcula Ness.

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CONFIANÇA
Para Mantega, o avanço do dólar não vai afetar a economia do País

As quatro maiores operadoras de destinos turísticos do Brasil estão conseguindo manter suas vendas operando com o dólar congelado em R$ 1,99 e reduzindo suas margens de lucro. Foi assim que a CVC aumentou embarques para as últimas férias de julho em cerca de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. Todas as empresas do setor de turismo tiveram que se mexer para não sofrer perdas significativas. O presidente da Flytour Viagens, Michael Barkoczy, afirma que a empresa precisou aplicar novas estratégias para não perder clientes. “Negociamos as tarifas de dólar e euro com os fornecedores para diminuir o impacto para os consumidores”, afirma. Em julho, a empresa identificou uma queda de 5% na demanda internacional e a migração desses consumidores para pacotes nacionais. Se a procura por roteiros fora do Brasil continuar em queda, novas estratégias terão que ser planejadas.

Apesar dos efeitos negativos da elevação do dólar, o governo diz que não está preocupado. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é preciso considerar uma série de outros fatores. A valorização da moeda americana gerou, de fato, resultado favorável em um momento crítico para a balança comercial. Os exportadores brasileiros comemoram o respiro que o novo patamar do dólar deu às suas negociações. No agronegócio, o avanço do dólar pode aumentar suas receitas em até 10% até o final do ano. O mesmo se dá em outros setores que têm nas vendas ao Exterior o grosso de suas receitas, como na indústria de alimentos e na mineração. O governo também argumenta que, ao contrário do que aconteceu em outros momentos de forte valorização da moeda americana, desta vez tudo indica que a alta excessiva não deve durar por muito mais tempo.

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Para alguns especialistas, a tranquilidade do governo deve ser vista com alguma desconfiança. Se a elevação do dólar prosseguir em ritmo ascendente, a inflação, por ora sob controle, corre o risco de ultrapassar a meta estabelecida no início do ano. “Não é uma situação desesperadora, mas deve ser vista com cautela”, diz o economista Álvaro Luchiezi. Na quinta-feira 8, o Banco Central promoveu um leilão de US$ 635 milhões para suavizar a alta do dólar e o mercado respondeu com câmbio 1,33% menor. Por enquanto, porém, as ações do governo não surtiram efeito no turismo. Continua caro demais viajar ao Exterior – e não há nada que indique que esse cenário vá mudar no curto prazo.

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Fotos: Lula Marques; Domingos Peixoto / Ag. o Globo; Joel Silva / Folhapress


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