O vento vem soprando a favor da energia eólica na Itália. Enquanto na Europa o setor teve crescimento médio anual de 15,6%, no país a taxa foi de 30%. Com uma capacidade produtiva de 8.114 megawatts –1.200 deles instalados em 2012 –, a Itália é hoje o quarto maior produtor de energia eólica na Europa e o sexto no mundo. Tudo indica que atingirá antecipadamente as metas estipuladas pela União Europeia, de ter 17% de energia gerada por fontes renováveis até o ano de 2020. Tudo perfeito. Não fosse a mania do crime organizado italiano de meter a mão em tudo, até em torres eólicas.

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FAVORECIMENTO
Torre na Sicília, líder nacional de energia eólica e terra
de Matteo Messina Denaro (à esq.) e Vito Nicastri

Depois de dois anos de investigação, a Europol (agência europeia de combate ao crime) revelou o engajamento da máfia italiana em energia eólica. Vito Nicastri, acusado de ser ligado ao braço siciliano da organização, chegou a ganhar da imprensa italiana o apelido de “Senhor dos Ventos”. Nicastri, que começou no setor como um simples eletricista, fundou empresas de energia eólica e acumulou um patrimônio de 1,3 bilhão de euros (cerca de R$ 4 bilhões). Agora, tudo foi confiscado pela Justiça da Sicília, que mantém o empresário em prisão domiciliar.

A Europol começou a desconfiar de Nicastri ao notar suas ligações com Matteo Messina Denaro, chefe mafioso foragido há mais de 20 anos. Juntos, usavam as empresas para lavar dinheiro oriundo do tráfico, de fraudes e de extorsão. Para tornar a atividade mais atraente, os criminosos se beneficiavam dos subsídios e incentivos que a União Europeia oferece à economia verde. A Associação Europeia de Energia Eólica (EWEA) explica que na Itália funciona um sistema pelo qual os produtores de eletricidade vinda de fontes renováveis recebem um preço maior pela energia. Nos últimos seis anos, o governo italiano concedeu mais de 75 bilhões de euros para produtores de energia solar e eólica. Incentivo que ajuda a indústria de renováveis a ignorar a recessão europeia e gerar cinco mil empregos ao ano. 

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Até a natureza conspirou para que o negócio sujo funcionasse. A Sicília, líder nacional no número de torres eólicas, recebe mais sol e vento do que qualquer outra parte da Itália. Com tanto vento a favor, a máfia virou um forte competidor no setor, já que, segundo a Europol, “pode financiar grandes volumes, operar com perdas e montar um sistema que beira o monopólio”. A Associação Nacional de Energia Eólica italiana (Anev) não aprova nem dispensa o investimento. Limita-se a pedir que “a Justiça proteja o setor do risco criado por procedimentos pouco claros e de burocracia complexa”. De tão superficial, o pedido deixa margem para que os italianos continuem a ouvir uma frase eternizada por Marlon Brando em “O Poderoso Chefão”: “Eu vou fazer uma oferta que você não pode recusar”.

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