Hillary Clinton será a próxima presidente dos Estados Unidos. A previsão não é minha, mas de boa parte dos republicanos com quem conversei na semana passada em Washington. Sim, dos republicanos! Veículos de mídia como o “The Daily Beast” já publicam artigos de republicanas como Myra Adams sobre o tema. As razões pelas quais não seria possível tirar de mrs. Clinton a principal cadeira da Casa Branca em 2016 são discutidas abertamente por quem acompanha a política americana. As que listo abaixo ouvi de uma influente republicana que, por razões óbvias, me pediu que não tivesse seu nome divulgado nesta coluna. Para ela, Hillary Clinton estaria virtualmente eleita porque:

1) Os Estados Unidos já ultrapassaram o rubicão do preconceito. Elegeram um afrodescendente.
Embora Obama não tenha sido, como presidente, o sonho que representou como candidato, o caminho está pavimentado para a próxima revolução cultural: a eleição de uma mulher.

2) A memória americana do período Bill Clinton na presidência dos Estados Unidos é luminosa! O país crescia e o império justificava sua fama. Ou seja, o sobrenome de Hillary tem força. Agora, não mais como primeira-dama, mas como dona de um importante cargo eletivo e, mais do que isso, como a ex-secretária de Estado que ganhou interlocutores respeitáveis em suas andanças pelo mundo. Mrs. Clinton não deixou um grande legado durante seus anos de governo Obama, mas ganhou credenciais para ser reconhecida como uma política de peso.

3) Não se vê no horizonte democrata outro político que transite tão bem com minorias que, agrupadas, elegem o candidato nas prévias do partido. Hillary Clinton, além de congregar em torno de si as mulheres, também pode representar os latinos, os asiáticos e os mais velhos. Uma das preocupações mais fortes dos que hoje analisam as chances de mrs. Clinton é justamente sua idade. Se eleita em 2016, ela completaria 70 anos no início de seu mandato. Por outro lado, que republicano poderia carregar a bandeira da juventude como
vantagem eleitoral sobre Hillary?

4) Há coisas na política que são intangíveis. O que incomoda os republicanos é que Hillary Clinton parece estar no lugar certo e na hora certa. Sua trajetória, muitas vezes pontuada por percalços pessoais, como o que viveu durante o envolvimento do marido, então presidente, com a estagiária Monica Lewinsky, só faz com que ela pareça mais forte. Mais preparada. Mais experiente e resiliente. Paira sobre ela um equilíbrio de humildade e firmeza. Em resumo, é a hora de mrs. Clinton e essa é uma daquelas coisas que não se explicam na política. Se sentem.

Tive a oportunidade de estar num jantar reservado com mrs. Clinton durante minha passagem por Washington. Ela está mais magra. Mais bonita. O cabelo está bem cortado e bem tratado. Embora não seja, formalmente, nem sequer pré-candidata, comporta-se como tal. Faz as perguntas certas. Tem um interesse afiado e pontual sobre a América Latina, fala bastante sobre a política brasileira e demonstra um interesse especial sobre as questões de gênero no País – razão pela qual fui convidada a estar presente.

Os comitês de campanha estão prontos para um sinal. E os doadores de recursos também. Não acredito em destino, mas Hillary me pareceu, sim, predestinada. E políticos não costumam desperdiçar oportunidades.

Ana Paula Padrão é jornalista e empresária