Encontrar Jesus Cristo é a coisa mais comum para Roberto Strauhs da Costa, 47 anos. Desde a primeira vez que se viram, sentiram uma empatia. Durante a noite, uma nave espacial pousa em cima do prédio onde ele mora, em Curitiba. "Através de um sistema de teletransporte, seres iluminados me levam até Jesus, que fica dentro de uma nave linda." Se perguntarem a Roberto como é o filho de Deus, vão ouvir maravilhas. "É um extraterrestre de uma humildade impressionante. Conversamos durante horas e ele me disse que é o representante da Terra na Confederação Intergaláctica." Segundo Roberto, a confederação é uma espécie de ONU do espaço, que reúne líderes de todos os planetas. "Eles cuidam dos terráqueos. Jesus me disse que é anarquista e, no futuro, vamos ser uma comunidade sem fronteiras, dinheiro ou preconceitos."

Parece, mas Roberto não é um carola maluco. Também não toma ácido no café da manhã. Casado há três anos pela segunda vez, pai de três filhas, é pós-graduado em análise de sistemas e trabalha na Dataprev. Ele é tão normal quanto as outras 400 pessoas que participaram do XIX Congresso Internacional de Ufologia, organizado pelo Núcleo de Pesquisa Ufológica (NPU), em Curitiba, de 3 a 6 de junho. A virada do milênio tem reforçado a corrente da ufologia mística, aquela que acredita que santos são ETs e que os milagres vêm de outros planetas. Nessa linha cabem parapsicólogos, cabalistas, astrólogos e até matemáticos. Quem esteve no Congresso ouviu histórias fantásticas, dignas de causar inveja em George Lucas, o diretor de Guerra nas estrelas. Relações sexuais e conversas cara a cara com alienígenas são tão banais para essa gente quanto comer um pãozinho quente com manteiga. Há também os que não tiveram a mesma sorte e sonham com o dia em que uma nave virá buscá-los para um passeio no espaço. E se o Ashtar Sheran estiver a bordo melhor ainda.

Para quem não sabe, Ashtar Sheran é um alienígena loiro de um 1,90 m, olhos azuis, que usa macacões prateados ao estilo do Capitão Kirk, de Jornada nas estrelas, um velho conhecido e o grande mito dos adeptos da ufologia mística. É o presidente da ONU intergaláctica, na qual Jesus, ou Lord Sananda, é o representante da Terra. A organização nos protege do mal que vem de outras dimensões, trabalhando para a evolução espiritual e científica dos terráqueos. Os que já estiveram com Ashtar garantem que ele é mesmo sedutor, caso de Teresa Moreira Garcia, uma dona de casa, 55 anos, que chora de emoção sempre que toca no assunto. "Tem um olhar penetrante e é lindíssimo. Ele transmite uma paz enorme." A primeira vez que Teresa viu um disco voador foi em 1977, quando abriu a janela do quarto e deu de cara com um imenso objeto oval luminoso. "Acordei meu marido e contei que estava vendo um Ovni, mas ele me mandou dormir."

O marido de Teresa não acredita nessas coisas, mas a história dela é idêntica à de milhares de outros entusiastas do assunto. Mas existem também os ufólogos incrédulos. "Com bobagens como Ashtar Sheran, não é à toa que o número de pessoas interessadas no assunto cresceu assustadoramente nos últimos anos", diz Rafael Cury, sócio-fundador do NPU. "ET é um produto fácil de ser vendido: não precisa entregar, basta dizer que ele existe", ironiza. Enquanto a idolatria a seres extraterrestres se restringir a um modismo comercial, os pesquisadores da ufologia científica não se preocupam. O problema é o fanatismo que pode surgir. "Lamento que haja pessoas que cultuam naves espaciais, estrelas e cometas porque podem virar seitas perigosas, como o Heaven’s Gate", diz Claudeir Covo, que há 33 anos pesquisa o fenômeno, referindo-se aos 39 lunáticos que cometeram suicídio na Califórnia, em março de 1997, acreditando que o cometa Hale-Bopp levaria suas almas para o espaço. "Todo fim de século é assim: previsões catastróficas fazem pessoas cometerem loucuras. É preocupante saber que esses episódios podem se repetir."

Terceiro segredo Como era de se esperar num lugar desses, a maior estrela do Congresso foi Giorgio Bongiovanni, um italiano ex-vendedor de sapatos que diz ser o único no mundo a conhecer o terceiro segredo de Fátima. Disputado pelos participantes como se fosse um ator de telenovela, suas revelações foram para lá de catastróficas – a terceira guerra mundial e a invasão do planeta por seres extraterrestres. Para completar o cenário aterrorizante, Bongiovanni mostrou chagas idênticas às de Cristo, feridas na testa, nas mãos e nos pés que sangram diariamente e, ele jura, teriam sido consequência de um raio lançado por Nossa Senhora de Fátima – ela também um possível ET. Maria da Luz Moreira, uma empresária catarinense de 49 anos, foi uma das muitas que se encantaram com o italiano. "Creio em tudo o que me dizem porque já tive experiências que ninguém consegue imaginar." Maria diz que numa noite três homenzinhos cinzas, chamados de grays, invadiram o quarto dela e de sua irmã. Foram jogadas no chão e amordaçadas. "A nossa sorte foi que eles receberam uma ordem superior para que não nos levassem. Foi uma experiência traumatizante."

Mas ao lado de toda essa etmania, que se realimenta dos filmes de ficção científica, estão pesquisadores que se dedicam a investigar o fenômeno ufológico baseados em metodologias sofisticadas. Céticos, eles são uma espécie rara neste universo que mistura religião e misticismo popular. Não crêem em possíveis invasões alienígenas, mas buscam explicações verossímeis para o aparecimento de discos voadores. As estatísticas mostram que, em se tratando de objetos voadores e abduções, nem tudo o que reluz é ET. Mais de 90% das fotos e dos filmes de naves que Ricardo Varella, engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), analisa "são fraude ou engano de quem tirou a foto". Ainda segundo Varella, os relatos de abduções e avistamentos não só cresceram como sofisticaram-se neste fim de século. "Nos anos 80, os ETs sequestravam as pessoas na marra e dando porrada. Mas os abduzidos desta década descrevem naves com um sistema de teletransporte e raio laser paralisante. Ou seja, embora alguns casos sejam intrigantes, a maioria deles é pura ficção científica."

Afirmações como esta já não chateiam mais os que garantem ter sido abduzidos. Eles têm explicação até mesmo para os filmes sobre o tema. "É óbvio que os cineastas americanos têm acesso a documentos ultra-secretos da Nasa e recebem mensagens dos ETs", acredita Ricardo Nogueira Ramos, advogado paulista de 49 anos que já viu inúmeros Ovnis. "Foi uma pena que o maior e mais bonito dos que vi me fez sofrer", lamenta Ricardo. Durante um ano, o advogado criou problemas em casa e no trabalho. Por causa do excesso de energia que a nave espacial deixou em seu corpo, ficou proibido de manipular produtos elétricos e eletrônicos. "Bastava eu chegar perto de uma lâmpada que ela queimava. Não podia usar um computador que ele pifava." Felizmente, ele já se livrou das perturbações. Pelo menos, até a próxima visita alienígena, as lâmpadas da casa de Ricardo estarão acesas.