Becos estreitos, carcaças de carros, bocas-de-fumo, casas precárias, altas taxas de violência. Nada diferencia muito o bairro de Tepito, na Cidade do México, de diversas vizinhanças em grandes cidades brasileiras. A não ser o fato de que o prefeito recém-eleito, Marcelo Ebrard, resolveu usar a tecnologia – ou o apelo que ela promete à inclusão social – para combater a violência. Na semana passada, foi anunciado um programa por meio do qual o governo dará um videogame Xbox por cada arma entregue pela população. Se o armamento for de grosso calibre, valerá um computador de US$ 770 com software Microsoft, que está apoiando o programa. No primeiro dia, saíram 17 jogos eletrônicos da delegacia do bairro.

Com a iniciativa, a intenção é apelar às mães e até mesmo às próprias crianças para que troquem a violência por um futuro melhor. “Há uma forte percepção, em toda a América Latina, de que é cada vez maior o número de armas nas mãos de crianças e adolescentes”, afirma Renato Alves, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Com menor grau de discernimento e maior sensação de impunidade, é mais fácil para o jovem puxar o gatilho sem medir conseqüências.

Além da publicidade que alcançou em todo o mundo, especialistas acreditam que, apesar de boa, a iniciativa deverá ter impacto relativo. Um computador ou um jogo não tem apelo especial para um menor infrator? “Toda campanha de desarmamento é válida, mas não acredito que menores infratores trocariam seu revólver por um jogo”, diz Alves. “Em última instância, a arma os ajuda não só a roubar um jogo como a sobreviver num Estado que não garante condições para isso.” Difícil dizer. De todo modo espera-se que, pelo menos alguns deles, achem mais divertido atirar contra policiais e matar civis na tela do que na vida real.