O governador Geraldo Alckmin, do PSDB, bem que conseguiu, temporariamente, dar o chamado “drible da vaca” nas ruas. Alvo inicial dos protestos de junho, em razão do caos nos transportes públicos e da violência policial, ele logo foi suplantado por novos personagens – sobretudo por seu colega do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O ápice desse deslocamento, numa espécie de ponte aérea da indignação, foi um protesto na avenida Paulista, em que os manifestantes gritavam contra o governador do Rio. Era uma manifestação tão inusitada que deixava no ar a seguinte questão: por que os paulistas seriam capazes de se levantar contra alguém que governa a mais de 400 quilômetros da Paulista, e não contra seu próprio governador? Sobre o caso Siemens e o propinoduto dos tucanos paulistas instalado no Metrô há cerca de 20 anos, detalhado por ISTOÉ, muitos ainda silenciavam. Mas o grito das ruas não perdoa. Na última quinta-feira, manifestantes carregavam cartazes lembrando a Alckmin do episódio. “A Siemens já falou. E você, governador?”, dizia um dos protestos, que terminou com atos de vandalismo, 13 presos e com a polícia de São Paulo voltando a agir como de costume.

De acordo com depoimentos de funcionários ligados à Siemens, os desvios nos trilhos do metrô paulista poderiam somar nada menos que R$ 425 milhões nas gestões de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Na Alemanha, o presidente mundial da Siemens, Peter Löscher, acaba de ser demitido e alguns acionistas o acusam de ter dado transparência demais aos casos de corrupção internacional, em prejuízo da lucratividade. No Brasil, um ex-presidente da multinacional, Adilson Primo, também saiu acusado de manter contas secretas no Exterior.

Diante de todos esses fatos, os jovens acordaram. No dia 14, o Movimento Passe Livre, com seu impulso natural da juventude, prepara uma grande manifestação em São Paulo contra o chamado propinoduto tucano. Segundo Matheus Preis, um dos militantes do movimento, sem os desvios nas obras do Metrô, as tarifas do transporte público em São Paulo poderiam custar apenas R$ 0,90. Aos poucos, os jovens começam a devolver a Alckmin o que é de Alckmin.