Às vésperas da análise dos recursos do mensalão, momento em que a serenidade deveria prevalecer, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, comprou brigas inócuas. Em entrevista concedida na última semana, Barbosa reclamou que, em 1981, foi eliminado de um concurso para o Instituto Rio Branco, escola do Ministério das Relações Exteriores responsável pelo treinamento de diplomatas, por racismo. A concorrência era de 20 candidatos por vaga. O presidente do Supremo ainda chamou o Itamaraty de uma das instituições “mais discriminatórias do País”. “Passei nas provas escritas, mas fui eliminado em uma entrevista que existia para eliminar indesejados. Sim, fui discriminado, mas me prestaram um favor”, disse. As declarações abriram uma nova trincheira de embate envolvendo Joaquim Barbosa, que nos últimos tempos andou brigando com o Executivo, o Legislativo e a imprensa. Integrantes do Ministério das Relações Exteriores, que desde 2002 adota políticas de ações afirmativas para ampliar a presença de negros em seus quadros, não gostaram do desabafo do presidente do STF.

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O chanceler Antônio Patriota saiu em defesa do Itamaraty. Em entrevista, considerou a reclamação de Joaquim extemporânea. “Ele se refere a outra era no Itamaraty. Hoje o que existe é um esforço para corrigir esse legado da discriminação no Brasil”, ponderou Patriota. O filho de Rodrigo Otávio Souza e Silva, diretor do serviço médico do Itamaraty à época em que Joaquim fez a prova, rebateu a acusação de racismo por parte da banca de examinadores. “Posso afirmar que isso não ocorreu. Meu pai nunca na vida foi preconceituoso”, afirmou Rodrigo Otávio Filho.

A troca de acusações com o Itamaraty não foi a única polêmica em que Barbosa se envolveu nos últimos dias. A divulgação da compra pelo presidente do STF de um apartamento de 70 metros quadrados em Miami também rendeu discussão. O contrato de venda informa que Joaquim pagou US$ 10 pelo imóvel avaliado em R$ 1 milhão. Para fechar a transação, Barbosa abriu a empresa Assas JB Corp. e obteve benefícios fiscais, contrariando a Lei Orgânica da Magistratura. O presidente do Supremo ainda forneceu o endereço de seu apartamento funcional como sede da empresa, o que seria ilegal. “Esse tipo de empresa individual é muito comum para quem adquire imóveis nos EUA. Mas acho que um presidente de um Poder não deve procurar esse tipo de benefício fiscal. Mesmo que seja comum, a exposição é muito grande e não vale a pena”, afirmou o ministro do STJ, Gilson Dipp, ex-corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Joaquim ainda teve de se explicar sobre o auxílio de R$ 580 mil que recebeu em retroativos de bônus-moradia e licenças não gozadas na época em que integrava o Ministério Público Federal. Para seus críticos, ao aceitar as benesses, Joaquim entrou em contradição com os seus recentes discursos. No CNJ, o presidente do Supremo costuma atacar o excesso de mordomias do Judiciário e MP.

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INJUSTIFICÁVEL
O ministro do STJ, Gilson Dipp, considerou a
atitude de Joaquim Barbosa desnecessária

Fotos: Ailton de Freitas/Ag. O Globo; Rodrigo Paiva/Folha Imagem

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