Confira, em vídeo, trechos de entrevistas em que ela conta como e por que virou corredora:

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Quando a ultramaratonista inglesa Lizzy Hawker, 36 anos, percebeu que o voo que a levaria a Katmandu havia sido cancelado, teve uma ideia. Conhecedora da região, ela sabia que, de onde estava, na base do Monte Everest, a distância até a cidade não passava de 320 quilômetros. Em minutos, Lizzy resolveu que não esperaria outro voo, mas que correria esse percurso – os 320 quilômetros. Setenta e uma horas e vinte cinco minutos depois, a inglesa chegava, cansada, mas inteira, ao seu destino final, superando o tempo de 74h36 que registrara ao percorrer o mesmo trecho em 2007. Economizou na passagem e ainda bateu um recorde pessoal. Embora seja uma das mais impressionantes histórias dessa superatleta, a corrida do Everest a Katmandu é só mais uma entre as muitas façanhas da determinada Lizzy Hawker. Hoje tida como a maior ultramaratonista inglesa em atividade e uma das mais importantes do mundo, ela vem chamando a atenção pelo volume de provas das quais participa, muitas tidas como as mais desgastantes do mundo, e pelos resultados que tem obtido. “Mas competição só é bom quando você compete contra si mesmo”, diz. “O desafio são a natureza, as montanhas, o clima e o corpo.”

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HEPTACAMPEÃ
Lizzy Hawker treina nos alpes franceses, onde ganhou
cinco vezes a prova "Ultra-Trail du Mont-Blanc", de 166 km

É o que resta a quem não encontra oponentes à altura nas competições em que ingressa. Em um período de quatro semanas de 2012, por exemplo, Lizzy venceu pela quinta vez a duríssima “Ultra-Trail du Mont-Blanc”, de 166 quilômetros, na Europa; quebrou o recorde mundial da “Spartathlon Ultra Race”, na Grécia, de 249 quilômetros; e, mesmo depois de sofrer uma dura queda, terminou bem os 160 quilômetros da “Run Rabbit Run”, nos Estados Unidos. Os títulos se somam aos outros 35 primeiros lugares que ela já acumulou em disputas na sua categoria desde que começou a competir, em 2005. À época, Lizzy já corria todos os dias, mas não se imaginava competindo em provas de alta performance, muito menos de longa duração. Foi num fim de semana acampando perto da pequena cidade de Chamonix, na França, onde a “Ultra-Trail du Mont-Blanc” começa e termina, que o interesse pela ultramaratona surgiu. Ao ver o movimento para a prova, por impulso, Lizzy se cadastrou para correr e conseguiu uma vaga. “Acho que foi mais uma desculpa para continuar nos Alpes e não ter que voltar para a Inglaterra, onde eu tinha acabado de entregar o meu doutorado”, afirma ela, Ph.D. em oceanografia polar pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

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Com uma mochila emprestada – grande demais para o seu corpo –, um par de tênis de trilha recém-adquirido e uma “headlamp” (lanterna que fica presa à cabeça e ilumina a trilha), ela não só correu todos os 166 quilômetros como terminou a prova em 26h53, a primeira entre as mulheres a chegar e a 24a no quadro geral. Logo depois da corrida, foi procurada por uma famosa empresa americana especializada em roupas e equipamentos para esportistas de alto rendimento, que ofereceu um patrocínio. Lizzy aceitou, mas colocou algumas condições. Continuaria treinando sozinha, sem um técnico, e não faria parte de equipes nem se submeteria a exigências de especialistas contratados pela marca, como nutricionistas. “Mas que ninguém se engane: o ultramaratonismo é um esporte profissional”, diz Marcos Paulo Reis, professor de educação física há mais de 20 anos e treinador de corrida e triatlo. “É para atletas de altíssimo rendimento e traz consigo os riscos desse tipo de atividade, como lesões por estresse.” Ou seja, correr 166 quilômetros é uma habilidade física rara e que requer muito treino.

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E se engana quem pensa que ter resistência física basta. Reis lembra que, em provas que chegam a durar 24 horas, o atleta precisa se reabastecer de energia enquanto corre. “Fazer esse aporte calórico durante a corrida talvez seja um dos maiores desafios no treinamento desse tipo de atleta”, afirma. Embora a tecnologia de suplementos alimentares e barras de energia tenha avançado muito, nenhum corpo está acostumado a processar alimentos e gerar energia nessas condições. “É uma coisa que você consegue com o tempo e com muito treino”, reforça Valmir Nunes, ultramaratonista brasileiro de 49 anos que, em março de 2013, correu uma prova de 161 km na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Suportar dores lancinantes também faz parte da rotina desse tipo de corredor, que depois de oito ou dez horas correndo a cerca de 14 km/h sente, como ninguém, o peso do próprio corpo. “Mas é prazeroso”, diz Nunes. Lizzy, com o ar plácido que lhe é peculiar, também garante sentir prazer no que faz. “Acho que todos nós procuramos por alguma coisa na vida. Eu tenho encontrado essa coisa na corrida”, diz.

Fotos: Tim Kemple/The North Face; Ddivulgação


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