Maria Martins: Metamorfoses / Museu de Arte Moderna de São Paulo/ até 15/9

Conta a lenda amazônica do Uirapuru que um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa de um cacique e, para se aproximar dela, pediu a Tupã que o transformasse em pássaro. O canto do Uirapuru, considerado o mais lindo da Amazônia, seduziu a moça, o cacique (que se perdeu na mata atrás do pássaro), e segue encantando gerações de artistas brasileiros. A começar por Tarsila do Amaral, que pintou o mito em 1928. A magia do homem transformado em pássaro também encantou a escultora mineira Maria Martins (1894-1974), que ao longo da carreira esculpiu o Uirapuru, a Cobra Grande, Boiúna e outros deuses e monstros hoje expostos em retrospectiva no MAM-SP.

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HÍBRIDOS
Esculturas em bronze Boiuna (acima) e Uirapuru evocam natureza original

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A exposição “Maria Martins: Metamorfoses” traz 30 esculturas, realizadas nos anos 1940, que mostram como os mitos amazônicos e afro-brasileiros influenciaram decisivamente sua obra, associada por André Breton, autor do manifesto surrealista, a uma “fonte primitiva”. O conjunto de esculturas de personagens-mitos da floresta tropical demarca, segundo a curadora Veronica Stigger, uma mudança decisiva na concepção formal de seus trabalhos. Foi nessas esculturas que a figura humana – antes representada de forma tradicional – começa a ser entrelaçada a cipós, folhas, galhos, algas e outros elementos da natureza, dando início a um processo de metamorfoses que culminaria com a célebre e monumental escultura “Impossible”, também na exposição. “A figura humana começa a se integrar à natureza, confundindo-se com esta e metamorfoseando-se nela”, escreve Veronica. Yara, Yemanjá, Boto e outros cantos ressoam da obra de Maria Martins. Seu grito em direção ao impalpável é ouvido em esculturas como “O Canto do Mar” e “O Canto da Noite”, título que ela toma emprestado de Nietzsche.