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A questão ambiental saiu do gueto. Porém, ainda estamos longe do mundo ideal, onde não caberia mais o termo “ambientalismo”, cujos valores seriam genuinamente praticados pela sociedade global em um contexto político que tivesse a sustentabilidade como base fundamental. A transposição da barreira do gueto traz uma conotação positiva e outra nem tanto. O lado bom é a presença cada vez maior de temas ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade na mídia e no cotidiano das pessoas. O lado ruim é que isso se deu justamente devido à gravidade do problema e à ameaça iminente do aquecimento global.

Como já disse Al Gore, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, a crise climática é como uma criança febril. Ao depararem com esse quadro, os pais sabem que devem tomar uma atitude, não podendo simplesmente cruzar os braços e torcer pela recuperação milagrosa do filho. Com a Terra não é diferente: nosso planeta está febril e cabe a nós buscar, o quanto antes, o tratamento mais efetivo. Combater as mudanças climáticas é uma questão de sobrevivência. Temos, sobretudo, de ser ágeis e eficientes na proposição de um novo modelo de desenvolvimento. Assim como no caso da criança febril, a cura do problema não passa por soluções mirabolantes, mas por decisões práticas, amparadas em abordagem integrada da questão.

Temos de atacar direta e rapidamente as causas do problema – a emissão de gases do efeito estufa – e fortalecer, assim, o sistema imunológico da Terra – seus ecossistemas naturais. Com o aumento gradativo das emissões, deparamos com consequências drásticas mundo afora, como secas e enchentes mais severas, falta de água e alimento e migrações forçadas.

O padrão de desenvolvimento econômico em vigor é danoso ao meio ambiente e insustentável. E esse problema só pode ser resolvido por meio da mudança de comportamento, que, por sua vez, só pode ser obtida quando há uma confluência de fatores concatenados. A transposição da barreira do gueto por si só não é suficiente – informação e consciência ambiental apenas não bastam. É preciso articular uma ampla estratégia que prevê ações em vários níveis e que não enfocam apenas a sensibilização do cidadão. Mudar comportamentos é algo penoso e difícil, que encontra resistência por envolver valores e hábitos culturais. Se realmente queremos mudar as práticas vigentes e identificar um novo modelo de civilização, temos de promover ações contundentes nas esferas do mercado e do Estado, com investimentos, políticas públicas, responsabilidade socioambiental corporativa, capacitação e alternativas que viabilizem a mudança de atitude.

Essa nova conjuntura irá requerer muita negociação e readequação no atual modus operandi da economia mundial. Implicará custos para uns e oportunidades para outros. O Brasil, por possuir a maior floresta tropical e uma das maiores áreas protegidas do mundo (quase 10% de seu território), encabeça a lista dos países campeões em sequestro de carbono e tem, portanto, a oportunidade de liderar esse processo. Duas excelentes para alavancá-lo são a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Já vigora a promessa de jogos “limpos’” e “verdes”, com a neutralização das emissões de gases do efeito estufa provenientes das atividades de planejamento, divulgação e realização desses eventos esportivos. Indo além, deve-se aproveitar também para fazer investimentos sólidos em melhorias nas condições socioambientais e estruturais do País (e da cidade do Rio de Janeiro em particular), enfrentando os desafios, investindo em educação e apontando para um novo modelo de governança capaz de ofertar as condições propícias para uma efetiva mudança de comportamento por parte da população, do mercado e dos governantes.

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