A frase “se o povo não tem pão, que coma brioches” nunca foi pronunciada, sabe-se hoje, por Maria Antonieta, mas ela lhe caberia muito bem, pois definia à perfeição a frivolidade da corte dos Bourbons às vésperas da Revolução Francesa. Se também nenhum prócer da República jamais disse “Se os brasileiros não têm partidos, que fiquem com as siglas”, a frase serviria como uma luva para definir a inconsistência partidária do País.

O PFL, por exemplo, agora se chama “Democratas” – não confundir com o homônimo americano ou com algum clube recreativo. A mudança representa um avanço, na medida em que sepulta a exigência da antiga lei eleitoral, que obrigava as siglas a adotarem o nome “partido”. Daí excrescências tipo Partido da Frente Liberal ou Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Mais sério é o fato de que os Democratas herdam a inconsistência programática do PFL, surgido em 1984 como uma dissidência da Arena – o “partidão” da ditadura – apenas porque se rebelou contra a candidatura de Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Liberal no nome, o PFL foi na verdade o ninho da velha oligarquia política brasileira.

Mas incoerência não é privilégio do PFL. Antes de 1964, a União Democrática Nacional (UDN) era tudo menos democrática – um antro de golpistas, “vivandeiras alvoroçadas que vêm aos bivaques bolir com os granadeiros”, na impagável definição do marechal Castello Branco. O PTB atual faria os trabalhistas históricos se revirarem no túmulo. A Arena travestiu-se de centro-esquerda: virou PDS (partido “democrático social”), depois PPB (“progressista” brasileiro) e agora, PP (popular). O PSDB (partido da social democracia) no poder foi mais neoliberal do que Collor, desmoralizando o ideário social-democrata. E o PT, originariamente de massas e de esquerda, virou apêndice do PSDB. Deveria mudar o nome para Partido Transformista.