A robótica casa dos Jetsons simulou nos últimos 30 anos a nossa fantasia de como seria a casa da família do século XXI. Ninguém diria que o clã futurístico do desenho animado dos anos 60 estaria ultrapassado nos dias de hoje. Não pela arquitetura espacial do lar ou pela robô-doméstica. O que ficou no passado foi aquela família. Redesenhada na sua composição, a família do século XXI mudou: figuras cada vez mais freqüentes como o namorado da mãe, a mulher do pai, filhos de casamentos anteriores transitam por salas de estar, quartos e cozinhas. Filhos retardam a saída de casa e agregam a essa rotina amigos, namorados e namoradas e mesmo filhos.

Numa entrevista ao Le Monde, a socióloga francesa François de Singly, estudiosa das evoluções da família, lançou aos arquitetos e construtores o desafio de pensar uma casa que atenda às necessidades dessas novas e voláteis estruturas familiares. Falta um cômodo, na visão de Singly, que permita uma coabitação harmônica capaz de respeitar a autonomia e a privacidade em determinados momentos. Um espaço onde se possa reunir, receber ou se isolar.

É verdade que, no Brasil, esta família de estrutura flexível está acomodada em espaços pensados para um clã formado por um casal, dois filhos pequenos e uma empregada. O mercado de imóveis pensou num lugar para microondas, para a lava-louça e para o home theater, mas ainda não estudou um espaço onde um pai possa estar reservadamente com uma namorada ou onde filhos mais velhos cheguem de madrugada sem acordar todo mundo. Pensou em flats para solteiros e lofts para gente organizada. Mas e o novo solteiro que recebe filhos e uma babá em certos dias da semana? A casa contemporânea deve ser pensada não só para acomodar a farta tecnologia hoje disponível, mas especialmente para unir, sem invadir, as pessoas dessa nova família.