Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o desemprego no Brasil subiu para 6% em junho, numa variação de 0,2% em relação ao mês anterior, quando era de 5,8%. Embora ninguém tenha o direito de ficar feliz quando o desemprego se eleva, o registro aponta para diferenças irrisórias, que não causam preocupação enquanto permanecer assim. O menor desemprego da história, registrado em dezembro do ano passado, ficou em 4,6% – mas é óbvio que as vendas de Natal tiveram muito a ver com isso. Na leitura do Planalto, a variação muito pequena merece uma pequena comemoração por dois motivos. O primeiro é que, mesmo com a economia exibindo taxas de crescimento decepcionantes, com projeções anuais que diminuem um mês após o outro, a população continua consumindo, o que é positivo num País com tantas carências históricas. O segundo é que os números mostram que os brasileiros caminham num cenário bem menos aflitivo que o das economias dos países desenvolvidos. Com imensas variações de um país para o outro, o desemprego europeu atinge a média de 15%. Nos Estados Unidos, encontra-se em 7,8%.

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EM ALTA
Indústria de calçados continuou criando empregos nos últimos meses

O cenário brasileiro é mais otimista, embora não seja possível avaliar até quando o governo sustentará a relação entre empregos e política de queda da inflação. Por enquanto, a boa notícia é que, apesar da desaceleração e das falhas graves na matriz econômica criada por Dilma Rousseff no início do mandato – que já rendeu inflação de 6,5% e Produto Interno Bruto com crescimento inferior a 2% –, o País ainda registrou a criação de 826.168 vagas novas em 2013. “Criar oportunidades em meio a esse cenário mundial é um bom indicador para o Brasil. Não registramos demissões relevantes”, afirma o ministro do Trabalho, Manoel Dias. Para especialistas, a oscilação dos índices de emprego não preocupa, pelo menos por enquanto. “O crescimento do mercado de trabalho está lento, mas é estável. Cresceu muito durante algum tempo e estabilizou-se”, avalia o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

No início do ano, pressionada a elevar os juros para controlar a inflação, a presidenta Dilma Rousseff explicou, várias vezes, que não pretendia controlar os preços com medidas que pudessem levar ao desemprego. Apesar do ceticismo geral, a opção mostrou-se acertada ao menos por um certo período. A presidenta aceitou a elevação dos juros, que subiram de 7,25% para 8,50% de abril a junho, mas tomou várias medidas – a desoneração entre elas – para favorecer a manutenção do emprego. Também contou com uma ajuda do calendário de preços. A alta dos alimentos, que causou incômodos a toda família que foi às compras, perdeu ímpeto e em São Paulo, na semana passada, chegava-se a uma situação de deflação.

Ainda enfrentando pressões para adotar uma política fiscal que garanta no longo prazo o equilíbrio entre gastos e receitas, ministros anunciaram na semana passada uma contenção de despesas da ordem de R$ 10 bilhões. A medida incluiu despesas que já não seriam realizadas e outras que poderiam ser evitadas apenas com bom senso. A eco­nomia anunciada prevê, por exemplo, R$ 5,6 bilhões de redução com pessoal e encargos sociais, além de outros R$ 4,4 bilhões com diárias e passagens para servidores e aluguéis de veículos e imóveis. O problema é que os ministros esqueceram de contabilizar os mais de R$ 4 bilhões de despesas extras e créditos extraordinários aprovados para ajudar municípios e alavancar programas dos ministérios. Também incluíram no “ajuste” mais de R$ 4 bilhões referentes a um erro de cálculo do Ministério do Planejamento sobre valores de desonerações que não precisariam ser repassados à Previdência, mas que foram incluídos na previsão de despesa da União.

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convencido de que seria preciso agir com mais firmeza, defendeu até o fim um corte real e um arrocho nas contas públicas capazes de surtir efeitos para a política econômica do governo Dilma. A ministra Miriam Belchior, do Planejamento, que deu a palavra final sobre os cortes, deixou de lado mudanças na estrutura inchada da máquina pública e nos contratos com empresas terceirizadas, que hoje custam mais de R$ 4,3 bilhões. Pelo que se percebe, os problemas reais da presidenta Dilma Rousseff e do seu governo ainda passam muito longe da pequena variação dos índices de desemprego registrados no último mês. 


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