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Em 2010, pela primeira vez, a ecologia assumirá a condição de tema relevante na eleição presidencial. Desde a redemocratização do País
na década de 1980, as eleições brasileiras foram pautadas pelos temas civis e, sobretudo, econômicos. As imagens de um Brasil cheio de rios, mares e florestas servia apenas para abrir a propaganda eleitoral da maioria dos partidos. Nos programas dos candidatos, algumas
linhas cumpriam uma tarefa quase burocrática de citar a ecologia, quase sempre por imposição de um único político ou exigência de uma  coligação conveniente com o Partido Verde. Esse descaso sempre se refletiu na hora da montagem das equipes e estruturas de governo. Se em campanha o Brasil era uma imensidão verde, na Esplanada dos Ministérios o meio ambiente só ganhou um assento no primeiro  escalão em 1993, durante o governo Itamar Franco. Embora a preservação do planeta tenha sido discutida com grande ênfase na Eco 92, no  Rio de Janeiro, a administração do tema, no efêmero governo Fernando Collor, estava restrita a uma mera secretaria, sem status ministerial, vinculada à Presidência da República. Em muitos momentos, na era Fernando Henrique, o Meio Ambiente servia para acomodar  os interesses dos partidos da base aliada. Na próxima eleição, no entanto, o meio ambiente ganhou o status de critério obrigatório para o  político chegar ao poder. A responsável pelo feito, sem dúvida, foi a ex-ministra Marina Silva (PV-AC), referência mundial na área. Ao deixar o governo por discordância na gestão da pasta e colocar-se como alternativa do PV na disputa pelo Palácio do Planalto, Marina contribuiu  ainda mais para cravar a preservação ambiental no epicentro dos debates. “É o tema do momento e não há dúvida de que vai ter grande  importância na campanha do ano que vem”, avalia o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

“Temos de ter cuidado, estamos tratandoda proteção do meio ambiente”
Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil
 

Contribuição
A participação de três dos principais pré-candidatos à Presidência na Conferência do Clima da ONU, em Copenhague, foi a  demonstração cabal de que o meio ambiente estará fortemente em discussão nas eleições de 2010. Até a ministra da Casa Civil e pré-candidata do governo, Dilma Rousseff, que chegou a reclamar publicamente que a demora para concessão das licenças ambientais era obstáculo para as obras do PAC, passou a se sensibilizar mais com o tema e chefiou a comitiva brasileira em Copenhague. “Agora ela tem discutido a questão, mas até pouco tempo atrás, entre o meio ambiente e uma obra, ela ficava com a obra”, lembra o cientista políticoRubens Figueiredo. Dilma, no entanto, relembrou seus tempos de desenvolvimentista ferrenha ao abrir um evento brasileiro sobre a  Amazônia no início da semana. “O meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”, afirmou a ministra, cometendo sua primeira gafe na COP-15.

“Pouco adianta ficar discutindo sobre a culpa pelo desastre que se evidencia no presente”
José Serra, governador de São Paulo
 

Durante a conferência, Marina esteve afinada com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Ao contrário de Dilma, eles defenderam que o Brasil contribua com US$ 1 bilhão, pelos próximos dez anos, para os países pobres poderem cumprir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Para Serra, seria uma forma de forçar os países desenvolvidos a agir da mesma maneira. Já Marina acredita que, com a contribuição brasileira, os países desenvolvidos seriam pressionados a contribuir. “Obviamente que é a primeira vez que a ministra Dilma participa de uma negociação com caráter de meio ambiente dessa magnitude, e surgem algumas questões que de fato estão repercutindo muito negativamente, inclusive essa de dizer que não vai ajudar os países pobres”, afirmou a senadora. Dilma rebateu afirmando que é preciso “ter cuidado, senão vamos cair em propostas fáceis e puramente mercadológicas. Aqui estamos tratando de coisas sérias, que é a proteção do meio ambiente”, afirmou a ministra.

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“O Brasil precisa contribuir com o fundo de combate ao aquecimento”
Marina Silva, senadora (PV-AC)

Para além do debate retórico, Serra saiu na frente ao promulgar em São Paulo lei instituindo a Política Estadual de Mudanças Climáticas. O documento estabelece corte de 20% das emissões de gases de efeito estufa até 2020, tomando como base o nível de emissões de 2005. “Embora os países desenvolvidos tenham sido os que mais contribuíram para essa situação, pouco adianta ficar discutindo sobre a culpa passada pelo desastre que se evidencia no presente”, disse Serra, que posou orgulhoso para fotos ao lado do governador da Califórnia, o ex-ator austríaco Arnold Schwarzenegger.

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Promessas
O Greenpeace, umas das entidades internacionais de defesa do meio ambiente, louva o fato  e a preservação do planeta estar entre os assuntos discutidos pelos pré-candidatos à Presidência. Mas pondera que as ideias precisam realmente ser colocadas em prática. “O meio ambiente está na agenda do País e dos candidatos. Mas é o mesmo que se diz quando falamos em propostas para saúde, educação e segurança. As promessas precisam virar realidade”, disse Sérgio Leitão, diretor de
campanhas do Greenpeace.


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