Mais um capítulo da violência estudantil que aterroriza as escolas públicas do País desenrolou-se na semana passada. Mas a trama desta vez conta com um inesperado protagonista: um professor armado. Na noite da segunda-feira 17, Armando Baceti, 47 anos, foi preso portando um revólver calibre 38 dentro da Escola Estadual Senador Adolfo Gordo, no Morumbi, zona sul de São Paulo, onde ele leciona Português nos cursos noturnos do colegial. Armando foi autuado em flagrante por uma das duas soldados responsáveis pela ronda noturna dentro do colégio. O professor cometeu dois delitos de uma única vez. "O primeiro por porte ilegal da arma. O segundo por estar armado dentro da escola. Mesmo com porte legal, isso é proibido", explica o delegado José Roberto dos Santos, da 34ª Delegacia da cidade.

Segundo a PM, o próprio professor se delatou. Em conversa informal com a soldado, na entrada da escola, Armando comentou que também tinha uma arma, colocando a mão na cintura. Depois da aula, o professor foi preso em flagrante. Levado à delegacia, ele foi solto após pagar fiança de R$ 50, e vai responder a processo em liberdade. De imediato, foi suspenso por 30 dias e seu caso foi encaminhado para uma comissão especial de procuradores de Estado. "Há grandes possibilidades de ele ser exonerado", garante Rose Neubauer, secretária estadual de Educação. Na delegacia, Armando justificou sua atitude dizendo que vinha sendo ameaçado por alunos. "Se ele estava sofrendo ameaças, deveria ter informado a delegacia de ensino ou feito um boletim de ocorrência", aponta a secretária Rose.

A estudante P., 21 anos, aluna do 3º colegial, defende o professor. "Há mais de um mês ele vinha sofrendo com isso. Alunos já entraram armados na escola dizendo que iam matá-lo. Ele é um bom professor e só quis se proteger." A estudante afirma que na noite de terça-feira 18 uma bomba explodiu dentro de um banheiro da escola. "Tenho certeza de que era para o Armando. Esses bandidos merecem mesmo morrer", apóia. Há quem diga, porém, que Armando era visto como um professor autoritário. "Ninguém gosta dele. Fazia o tipo carrasco, humilhava ou ignorava quem não prestava atenção ou bagunçava durante a aula", diz uma estudante de 19 anos, aluna do 3º colegial. A escola Adolfo Gordo localiza-se numa região de classe média espremida entre as mansões do Morumbi e favelas das proximidades. Abriga jovens de classe baixa que vivem em contato direto com sinais ostensivos de riqueza. É um ambiente propício para a violência. "Nada justifica estar armado. O professor deve ser exemplo, ainda mais neste momento em que todos estão trabalhando para o desarmamento", afirma Rose Neubauer. Se Armando, em vez de armado, fosse à aula com ouvidos abertos para os problemas dos alunos e estivesse munido, não de balas, mas de palavras de apoio e solidariedade, talvez pudesse ajudá-los a fazer da escola uma oportunidade de enxergar um caminho alternativo à marginalidade. Sua atitude, ao contrário, revela o quanto os educadores estão despreparados para virar um jogo até agora vencido pela intolerância.