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MUITO CARO
Cachê de US$ 50 milhões inviabilizou a participação
de Will Smith na refilmagem de "Independence Day"

As superproduções cinematográficas que tomaram conta das telas com ação incessante, efeitos digitais de tirar o fôlego e marketing para faturar milhões foram inventadas por duas das maiores cabeças de Hollywood: Steven Spielberg e George Lucas. Pois bem, foram os dois, Lucas e Spielberg, que apertaram o botão de alarme. Se a maior indústria de filmes do mundo não pisar no freio e desacelerar o custo dos blockbusters milionários, o sistema como um todo pode ruir. A dupla fez essa advertência em um debate na inauguração de um novo departamento de cinema na Universidade do Sul da Califórnia – e o toque de alerta deixou os executivos de cabelo em pé. “Basta três, quatro ou talvez meia dúzia de megaproduções fracassarem para mudar todo o paradigma”, afirmou Spielberg. Esse encarecimento das produções é decorrência de um conjunto de fatores e entre os que mais pesam está o alto cachê das estrelas. Um dos sinais de que uma reengenharia do modelo já anda em curso é a notícia de que Will Smith foi vetado para a refilmagem de “Independence Day”. O diretor Roland Emmerich alegou que o salário do astro (US$ 50 milhões) era inviável.

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EXAUSTÃO
O modelo atual de blockbusters é ditado pelas sequências como
"Wolverine – Imortal" (acima), cujo personagem volta no ano que vem em "X-Men".
O alto custo das produções se repete em "Círculo de Fogo", que custou US$ 200 milhões

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Emmerich é um dos que perceberam o tamanho da catástrofe anunciada. Seu trabalho mais recente, “O Ataque”, teve o orçamento de US$ 150 milhões (“2012”, que fez há quatro anos, atingiu US$ 200 milhões). Mas é o paradigma atual que está mandando. O aguardado “Círculo de Fogo”, de Guillermo Del Toro, com estreia em agosto, consumiu também US$ 200 milhões. Entre as produções anunciadas para os dois próximos anos, pelo menos 24 são blockbusters, o que dá uma média de um megafilme por mês. “São mísseis movidos a milhões de dólares, alinhados nas planilhas dos estúdios com as estrelas obrigatórias”, escreveu a produtora Lynda Obst (com passagem pela Fox e pela Paramount) no livro “Sleepless in Hollywood” (Insone em Hollywood), recém-lançado nos EUA.

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ADVERTÊNCIA
Steven Spielberg e George Lucas acham
que os estúdios devem mudar a estratégia

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Segundo Lynda, o novo modelo de produção baseia-se em três premissas: ter potencial para conquistar mercados externos, dar origem a uma franquia (sequências) e ser uma marca fácil de memorizar. Autor da trilha sonora da refilmagem de “RoboCop”, o brasileiro Pedro Bromfman pôde comprovar essa mentalidade in loco: “Hoje, 35% do faturamento dos filmes vem do mercado americano e 65%, do internacional. Os filmes passaram a ser pensados em termos globais.” Especialistas da área localizam o momento em que essa equação passou a vigorar. Ela se deu há cinco anos, quando a revolução digital possibilitou a exibição de filmes via streaming, minando o mercado de DVDs, responsável pela metade do faturamento dos estúdios. A saída foi reduzir os títulos médios e inflar as produções com gastos de lançamento estratosféricos. Daí o cuidado para que nada saia do controle, gerando o que Lynda chama de “monstruosidades” cinematográficas.

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Em cartaz desde a semana passada, “Guerra Mundial Z”, com Brad Pitt, ganhou o título de filme mais caro da história (US$ 400 milhões) porque foi reescrito e refilmado várias vezes para atender às pesquisas de mercado. “Às vezes o estúdio decide cortar uma cena que no filme representa segundos, mas levou meses para ser realizada, envolvendo vários profissionais”, diz Sandro Di Segni, diretor-técnico de efeitos especiais de “Homem de Aço”. Nesse caso, a economia está se dando com a instalação de empresas de efeitos digitais em países onde a mão de obra é mais barata. Com alguns filmes americanos no currículo, o cineasta Bruno Barreto acredita que a crise é apenas um ciclo e que o público vai exigir filmes mais humanos. “O cinema americano ficou burocratizado porque os grandes produtores como Irving Thalberg e David Selznick desapareceram. Agora as produções são decididas por um bando de executivos que ficam tentando adivinhar o que o público quer.”

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