Som estridente, luz difusa, jovens de classe média alta dançando ao som dos últimos sucessos. Um simples esbarrão e a festa vira pesadelo. Voam cadeiras, vidros se estilhaçam. Esse é o novo hit das boates do Rio de Janeiro: brigas monumentais, envolvendo, quase sempre, lutadores de jiu-jítsu e seguranças. Para atacar, vale tudo. Socos, mordidas, pontapés e até tiros. Nos últimos 15 dias, cenas como essa repetiram-se seis vezes. Em uma delas, o estudante Rodrigo Leandro da Silva, 17 anos, teve o nariz fraturado durante uma briga na boite Skipper. Em outra, no Barrashopping, o segurança Reginaldo Peixoto precisou levar 12 pontos no rosto para consertar os estragos de uma dentada que sofreu de Davi Soares. Os brigões já ganharam o apelido de pitboy – numa referência ao raivoso cachorro pitbull. “Grupos organizados vão nas boates apenas para brigar. Tem de haver mais policiamento”, reclama a mãe de Rodrigo, Maria Lúcia da Silva.

Para tentar garantir tranquilidade a quem quer apenas diversão, a polícia carioca criou o Núcleo de Controle e Fiscalização de Casas Noturnas. O objetivo é centralizar as informações sobre tumultos, identificar os baderneiros e cadastrar os seguranças. A xerife da patrulha do sossego é a delegada Monique Vidal, 29 anos, responsável pela prisão em fevereiro do lutador Ryan Gracie. Herdeiro do mais tradicional clã de artes marciais do País, Ryan, hoje em liberdade, agrediu um desafeto na Ilha da Fantasia, uma boate da Barra da Tijuca. Na semana passada, outro Gracie cruzou o caminho de Monique. Roger, 18 anos, primo de Ryan, e mais três amigos foram autuados por formação de quadrilha. Motivo: atacaram quatro pessoas com tiros de ar comprimido. “Os agressores são sempre pessoas de alto poder aquisitivo. Nunca vi alguém que morasse na favela envolvido em confusões desse tipo”, diz a delegada.
As gangues classe A são sinônimo de confusão e de despesa para os empresários. Na Slavia, uma cervejaria da moda, são R$ 23 mil destinados mensalmente à segurança. A casa criou um estilo de vigilância que está fazendo escola: contratou lutadores de jiu-jítsu para trabalhar à paisana e identificar os brigões antes mesmo de sua entrada na boate. Tudo para não reviver o trauma de novembro de 1999. Naquele mês, logo depois de inaugurada, a Slavia quase foi destruída num “batizado” promovido por pitboys. “Não existe outra saída. Para dar paz aos clientes é preciso investir alto em segurança”, observa o gerente-geral, José Estephânio.

O responsável pela equipe de vigilantes é Stênio Lutgardes, 39 anos, que pratica jiu-jítsu desde os 16. “Conhecemos os lutadores que causam tumultos, falamos a língua deles e sabemos como neutralizá-los”, afirma. Lutgardes gaba-se do fato de que, nos três meses em que trabalha na Slavia, nenhuma briga foi registrada. “A idéia é evitar confrontos. Se a situação complica, acionamos a polícia.” Para o psicanalista Marcelo Carvalho, que atende a jovens na Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, os brigões vêm, em sua maioria, de famílias desestruturadas. “Para compensar a pouca atenção que dão aos filhos, muitos pais de classe média deixam de impor limites. Eles acham que podem fazer tudo.”


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