A vida real é um sucesso de audiência. Com picos de 50 pontos no Ibope, fato inédito para o ingrato horário das noites de domingo, o programa No limite, da Rede Globo, só precisou de duas edições para se transformar em mania nacional. E causar polêmica. A eliminação do candidato Paulo César Vieira, o Amendoim, 42 anos, líder comunitário na Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro, provocou um festival de denúncias de racismo. Amendoim foi chamado de “crioulo” pelo surfista carioca Marcus Dias. “Fui eliminado por ser negro. O programa reflete a realidade do País”, afirma ele, que quer aproveitar a popularidade recém-conquistada para disputar uma vaga de vereador pelo PCdoB. “A primeira participante eliminada do programa, Hilca dos Santos, também era negra. É apenas coincidência?”, questiona Amendoim.

Coincidência ou não, entidades de direitos humanos tentam convencer o líder comunitário a processar Marcus por injúria agravada por discriminação racial. “O realismo da cena chocou. Não era um personagem de ficção cometendo um ato de racismo e sim um ser humano ofendendo outro. Marcus reagiu como muitos brasileiros, que, na hora da raiva, usam a cor do interlocutor como motivo de agressão”, observa Ivanir dos Santos, coordenador do Centro de Estudos e Articulação das Populações Marginalizadas.

A discussão serviu para alimentar a curiosidade em torno de No limite. O programa copia o modelo do americano Survivors. São 12 pessoas divididas em duas equipes, “Sol” e “Lua”, isoladas na praia dos Anjos, no Ceará, disputando um prêmio de R$ 300 mil. Sem cama ou banheiro, sobrevivem com uma alimentação diária de 300 calorias (abaixo do mínimo usado em spas). “Hilma e Tiago passaram mal. Ele chegou a ter convulsões”, lembra Amendoim. Como todos os participantes, ele assinou um contrato com a Rede Globo que proíbe declarações sobre o programa. Por ter rompido a regra ao reclamar da competição, levou um puxão de orelhas da emissora. Avisa que não pretende mais falar do assunto para não perder o carro zero quilômetro, prometido prêmio de consolação oferecido aos perdedores.
Na telinha, o vale-tudo é evidente. “A convivência é muito difícil. A fome, o cansaço e a competição interna impedem a união das pessoas”, afirma Amendoim. Os competidores não se intimidam em agredir verbalmente os colegas de equipe. “Discuti várias vezes com Marcus porque ele queria assumir o controle das ações. Brigamos e o grupo preferiu segui-lo”, conta o líder comunitário. Marcus também está fora da disputa. Apesar do sigilo que ronda a produção, vazou pela internet que ele será desclassificado no domingo, 6 de agosto. A partir de agora, os eliminados não podem mais deixar o Ceará. Até a exibição do último programa, no dia 10 de setembro, ficarão hospedados num hotel próximo à praia dos Anjos. A gravação das provas termina nesta semana. Mas os candidatos a celebridade instantânea não precisam ficar desconsolados. Os números do Ibope convenceram a Globo a fazer uma nova edição de No limite, em janeiro. O site da emissora já tem mais de 60 mil inscritos.